7/30/2015

resto de noite

Sil saiu caminhando na chuva em direção ao portão. Não havia mais nada a dizer, portanto também não havia o que fazer naquela hora. Era melhor mesmo caminhar um pouco e deixar a chuvinha fina que ameaçava engrossar bagunçar as luzes fracas que iluminam o parque. Guardou os óculos no bolso, acendeu um cigarro e tentou puxar o gorro o suficiente pra formar uma aba de proteção. A imagem dele falando coisas que ela não entendia, sobre coisas que não aconteceram, como se mesmo vivendo naquela casa há 10 anos tivessem estado em terras distantes, confundia tudo que acontecera nos últimos 60 minutos. Sil nem sentiu quando uma pessoa passou a seu lado apressada esbarrando na bolsa onde estava o seu computador, única coisa que pegara ao sair de casa quase correndo. Ao ver a máquina espatifada no chão algo aconteceu e foi como se o mundo tivesse vindo abaixo, num dilúvio de frustração desencadeado por um estalo inesperado! Largada na nisga calçada deixou o corpo arcar e soluçou, tanto, que se sentiu sem forças até pra levantar. Então, ficou ali. Sozinha no escuro, a chuva colando a roupa no corpo; sentindo a voz e até mesmo os soluços sumirem enquanto a enxurrada deixava só aquele frio gelado. Do mesmo jeito que veio, a tempestade foi embora. E ela recomeçou os passos vagarosos de onde parou. Meia volta lenta observando a água correr pelos cantos da ruela de paralelepípedo, marrom, grossa... naquela água suja da chuva, formando minúsculas ondas, deixou correr junto toda aquela confusão de pensamentos e simplesmente seguiu até o fim da rua. Sil estava sem um pingo de vontade de existir, naquele resto de noite.

7/23/2015

Quatro bandas e um objetivo: Salve o 92Graus!

No próximo sábado, 25, quatro bandas sobem ao palco do 92 Graus para uma série de shows com o objetivo de levantar verba para compra do​ imóvel onde está hoje​ histórico bar. Imof, Freefall, Black Pipe e Garden of the Eatingtapes se juntam à campanha “Espaço Cultural 92 Graus, o show não pode parar”, que inclui um financiamento coletivo com contribuições a partir de R$ 20. No sábado a casa abre às 21h e os shows iniciam às 22h. O ingresso custa R$10. Para incentivar as doações, foram montados diversos kits que trazem desde um cartão postal e um certificado digital até uma coleção dos compactos lançados pelo selo Bloody Records, criado por J.R. Ferreira na década de 1990, e uma carteira vitalícia de sócio livre de entrada em qualquer show do 92 Graus. Depoimentos de músicos brasileiros e estrangeiros se juntam às performances de bandas locais nessa empreitada em prol do principal ícone da música autoral contemporânea da capital paranaense. Há 24 anos o 92 Graus é um dos mais importantes palcos da música independente brasileira. Neste período mudou de endereços algumas vezes, mas nunca fechou as portas para as novas formações que sempre encontraram guarida sob os cuidados de JR Ferreira e sua incansável equipe. Praticamente toda geração 90 da música alternativa brasileira passou por este palco. Foram mais de dez mil shows com bandas de todas as vertentes, performances que ajudaram a consolidar não apenas Curitiba como uma referência em produção autoral, como também a formação cultural de músicos, produtores e jornalistas que vieram depois. Para contribuir com a campanha basta acessar: http://www.kickante.com.br/campanhas/espaco-cultural-92o-o-show-nao-pode-parar# IMOf Nascida em 2012, a banda Imof, tem em sua formação músicos experientes e com longa história na música alternativa paranaense. Ivan Santos (voz, violão) foi vocalista e compositor da banda OAEOZ, e é um dos criadores do selo De Inverno e do festival Rock de Inverno. Osmário Jr (bateria) integrou as bandas CMU Down, UV Ray, Dive e Sofia; Rodrigo AB (baixo) tocou na Equipe Espacial nos anos 90, entre outros grupos, e Martinuci (guitarra, piano) encabeça o projeto Stilnovisti. Lucas Paixão (guitarra) trabalha com produção musical. O primeiro lançamento da Imof foi o single “Um silêncio novo na casa”, de 2012, com três faixas, pelo selo De Inverno. Em 2013, a música ganhou um clip editado a partir de vídeos caseiros de bichos de estimação enviados por internautas, fãs e amigos. O single e o clip foram destaque em diversos veículos de comunicação, e foi veiculado pela TVs Educativa, ÓTV, além de recebido boas críticas no jornal Gazeta do Povo, e sites como o Scream Yell. Em novembro passado, o segundo single, “Chuva”, foi disponibilizado para download gratuito no blog da De Inverno através do "Pague com um Tweet", um sistema de pagamento social, que troca downloads por divulgação nas redes sociais. O lançamento também rendeu ainda um show no lendário Teatro Paiol, de Curitiba, com a participação de Fábio Elias, guitarrista e vocalista da Relespública, e Igor Ribeiro (Iris, Humanish). O single também recebeu boas críticas. “‘Chuva’ é uma balada pop e melancólica com alma roqueira, em cuja letra há tanto aceitação quanto cumplicidade”, escreveu o jornalista Cristiano Castilho, do blog “Pista Um”, da Gazeta do Povo. E o show no Paiol motivou um especial na ÓTV dentro do programa “Tubo de som”. A música também foi relacionada como um dos melhores lançamentos nacionais pelos blogs “Pergunte ao Pop”, editado pelo jornalista Bruno Capelas (RJ), e El Cabong, do jornalista Luciano Matos (Salvador/BA). Em maio de 2014, a Imof lançou o vídeo de uma música inédita, "Sem acreditar", gravado em show no teatro Paiol, em novembro passado, com a participação de Fábio Elias (Relespública), na guitarra. A música faz parte de um novo EP que a banda prepara para este ano. FREEFALL Unida pela paixão ao rock'n'roll britânico, a banda nasceu em 2013, com Beto Reis e Ale D, e com a disposição de elaborar músicas próprias inspirada nas bandas britânicas favoritas do duo, como Beatles, Stones, Led Zeppelin, The Who, T.Rex, Oasis, The Verve, Radiohead, Stone Roses, The Jam. Em seguida, Bob, antigo parceiro de Beto, assumiu a guitarra base, trazendo sua influência do rock americano. Por fim, Johnny assumiu o baixo no fim de 2014 e trouxe junto suas referências do rock dos anos 60/70, completando a formação que sobe ao palco do 92. O resultado dessa combinação é um rock’n’roll vigoroso e visceral, que vem recebendo elogios da crítica especializada. Em 2015, a banda ficou entre as 50 bandas selecionadas para disputar tocar na abertura do festival Lollapalooza Brasil 2015. BlackPipe A sonoridade da Black Pipe mostra a influência do "rock inglês - britrock” nas letras, na atitude e na estética visual, tudo temperado pelo som característico do rock sulista. A dedicação da banda para atingir a melhor qualidade sonora poderá ser conferida em breve com o lançamento do primeiro EP, “Vizinho Irlandês”. Com as músicas "Boa Noite" e "Chá no Trem" , o disco foi masterizado em Londres no mítico estúdio Abbey Road pelos lendários produtores musicais Simons Gibson (Bealtes, Sting, Paul Mccartney) e Alex Warthon (My Bloody Valentine, The Breeders, The Strypes). Em 2014, as duas faixas ganharam clipes. “Chá no Trem” tem imagens gravadas na Inglaterra, Escócia e Alemanha, além de cenas filmadas em Curitiba. Os dois vídeos tiveram boa repercussão e receptividade. Este ano, a banda lançou mais dois vídeos: “Hey” e “Vizinho Irlandês”. Garden of the Eatingtapes A Garden of the Eatingtapes é um power trio de rocknroll cru e true, formado no final de 2013 por Tiago Oliveira (Vocais/Guitarra), Felipe Hotz (Baixo) e Kiko Sousa (Bateria). A proposta é fazer um som orgânico, criando um ambiente musical onde o fator humano da música se faz presente em todos os momentos. Em agosto de 2014 a Garden lançou o seu primeiro álbum, "Twist of Fate", composto de 12 músicas que exploram as mais diversas sonoridades que uma banda de rock pode ter. Serviço: O que: shows das bandas Garden Of The Eatingtapes, Imof, Freefall e Black Pipe. Campanha: “Espaço Cultural 92 Graus, o show não pode parar”. Quando: 25/07/2015, a partir das 21h. Quanto: R$10. Onde: 92 Graus (Av. Manoel Ribas, 108). Informações e Reservas: 41.9919-1492 Informações para imprensa: De Inverno Comunicação Adriane Perin 41 9902-1814​

7/15/2015

No estúdio com Stilnovisti




Em novembro, eles ocupam o palco do Teatro Paiol para momentos, por certo, especiais: o lançamento do primeiro álbum da banda Stilnovisti. Até lá, a rotina é de criação, entre estudos de possibilidades musicais, ensaios, na Casa do Rock, e de gravação, no Gramophone.  Daqui a 4 meses será a hora de mostrar o resultado de um árduo trabalho e dedicação, no projeto batizado de Stilnovisti: Canção Com Palavras.

Eles são:
Martinuci - voz, piano, guitarra
Luís Bourscheidt -  bateria, percussão e voz
Jorge Falcon - guitarra, violão, voz
Fábio Abu-Jamra - guitarra, violão, voz
Gustavo Slomp - baixo acústico e elétrico.

Projeto de Martinuci, poucos ensaios bastaram para que ele, Bourscheidt, Falcon, Abu-Jamra e Slomp, e convidados, afinassem o repertório, sob os ouvidos atentos de Jorge, que faz as vezes de maestro – missão dividida com todos, na verdade, já que as trocas de ideias são constantes. Martinuci, notei, fica mais calado ouvindo o que os outros sugerem, às voltas, muitas vezes, com a tecnologia, fios, teclas, cabos. Entretanto, levam a assinatura dele as partituras com as melodias e as harmonias. Houve também um pequeno período de pré-produção, compartilhada com Jorge Falcon, com foco nas composições mais recentes de Martinuci. E se poucos ensaios foram suficientes, é porque dos cinco músicos, quatro deles já estão trabalhando no projeto desde 2011, tempo suficiente para ver que a química está funcionando. E o baixista Gustavo Slomp também já tocou com o Stilnovisti, portanto também já conhece boa parte do repertório que será gravado. No dia 7 de julho, o quinteto fez o último ensaio geral, antes das decisivas horas de estúdio do projeto, que conta com o apoio do Mecenato da Prefeitura Municipal de Curitiba e patrocínio do Banco do Brasil e Volvo.


É sempre interessante observar este processo de perto. Algumas canções são conhecidas e ganham agora um novo registro sonoro, na busca incessante por gravações definitivas (se é que elas existem, diriam alguns, inclusive eu!) desta safra de canções nascidas com Martinuci ao longo dos últimos 15 anos.


 “Canções que não foram gravadas anteriormente, ou seja, inéditas. Algumas já foram apresentadas ao vivo, mas quatro foram compostas recentemente: Sweet Flower, O Que Nem Sei (milonga), Cem Dias de Espera e Mikrokosmos. Duas canções tiveram profundas alterações: Zumzumzum e Os Rios. Duas canções são poemas de Paulo Leminski - Um Deus Também é o Vento e Zumzumzum; uma outra, Francesinha, era uma valsa para piano que ganhou letra da poetisa paranaense Neuzza Pinheiro (parceira de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Grupo Fato, entre outros).”
Muito curiosa para ouvir esta nova versão, já que a anterior, como vocês podem ver no link acima,é muito linda!

Embora o projeto Stilnovisti tenha nascido da  iniciativa individual de Martinuci, ao longo dessa caminhada ele foi agregando parceiros musicais. Ao todo, serão cerca de 35 músicos envolvidos diretamente, numa soma total de 50 pessoas, que inclui produtores e técnicos.

“Participações especiais: André Deschamps (sax soprano) - Guilherme Romanelli (volino) - Cristiane Serkes (soprano lírica) - Madrigal da UFPR e Maestro Alvaro Nadolny. (haverá ainda um músico argentino que vai gravar um bandoneon, mas  não sei o nome dele...). O quarteto de cordas será formado por músicos da Camerata Antiqua de Curitiba e Guilherme Romanelli.”




Sete caras e seus instrumentos num espaço de poucos metros quadrados. Paredes cobertas de cartazes, guitarras, cases e outros detalhes que contam histórias recentes e mais antigas. É a Casa do Rock, estúdio simpático na vizinhança do Largo da Ordem, numa terça-feira chuvosa; 10 da matina. Metade dos músicos já aguardava a abertura da portão quando cheguei. Logo, todos estão a postos e o café na padoca fica pra outro dia.  O clima é bem tranquilo entre o quinteto que já se conhece de longa data. O primeiro convidado do dia, André Deschamps, com seu sax soprano, já está a postos também.

Falcon chega um pouco depois para dar seus pitacos, poucos, na real. A verdade é que eles já estão com tudo encaminhado pra iniciar a gravação no dia seguinte.  Enquanto eles se viram com a arrumação dos instrumentos, fico observando, escolhendo melhor lugar pras fotos, testando possibilidades de gravação de um áudio para ilustrar. Não conheço a acústica do lugar, vamos ver como fica. Pescando palavras no ar e tentando não atrapalhar. 

Conseguir fotografar todos juntos é sempre um grande problemas em estúdio, o batera tá sempre lá num canto, separado... rsrsrs. Salve a estratégica escada da Casa do Rock.  

Depois de tudo montado, instrumentos ligados, acertos e mudanças de tom acontecem entre conversas de sustenidos, busca de afinações e belas melodias para acordar um dia que segue indeciso lá fora. Ali dentro o tempo passa em ritmo diferente. 

 Instantes ímpares pra mim, estes em que consigo esquecer o mundo lá fora... e quase só acontecem com música e livros.

O movimento dos dedos em cordas de diferentes ‘calibres’, o acariciar das baquetas em seus pratos cor de um sol que não se vê lá fora; o deslizar pelas teclas brancas e pretas... vendo assim, até parece que tudo é só encanto na magia de “ver” uma canção ganhando corpo.

  Nada, é uma trabalheira danada e se não tomar cuidado não sai do estúdio de ensaio, porque estes caras estão sempre querendo algo a mais que está logo ali na frente, embora nem eles saibam bem o que é. Me parece.

Mas, tem-se a impressão de que tudo é tão corriqueiro para eles, neste longo percurso de uma canção até chegar ao seu destino: o público.

É o ‘trabalho’ dos caras – e eles o fazem com a tranquilidade de quem domina seu ofício, mas quer mais. Para mim, definitivamente, é encantador observar do meu canto os movimentos de cada um nessa busca por “outras cores” para a música. A procura pela faceta musical de cada um que converse com aquela canção do Stilnovisti.


Afinal, qual é o caminho para escapar das armadilhas que levam para os lugares mais comuns senão essa (pequena) profusão de acordos e desacordos amenos, essa inquietação que leva a outra pergunta, que conduz ao experimento de outra nota, e que assim vai tecendo um borbado musical na vontade de tocar alguém que o escuta.

Cada um tem seu jeito de desvendar (ou ao menos tentar) o grande mistério de manter uma banda. Mas o que é esse poderoso mistério senão encontrar aquele espaço, a intersecção que passa por todos, naquela canção?

Nesta busca, às vezes o som ‘gordo’ do baixo acústico fica melhor; noutras, o contrabaixo elétrico é quem dá o tom. É o conjunto da obra se erguendo diante dos meus olhos.  E pequenas pérolas que ficam por alí,  na Casa do Rock, no Gramophone,  marcando ainda mais suas paredes com mais melodias, musas invisíveis a inspirar (e inspiradas) até (em) quem não tem ideia.

Entre o quebrar  de andamentos, o não dobrar de viradas, tudo e mais é possível, agora.  Mas, é preciso foco – afinal não é todo o tempo do mundo que se tem agora.

E a gente vai vendo/ouvindo altas horas passarem sem sentir, todos mergulhados nos sons, todos prontos para ouvir e criar, juntos. Descalços, de certa forma, tateando sons em certa medida para encontrar os “nossos” neste momento; para encontrar os instantes musicais que ninguém espera!

Stilnovisti, por ora, encontrou os seus. Ou, os seus, por ora, os encontraram. Outros virão e é possível ainda que no palco do Paiol, em novembro, outros sons já tenham brotado, depois de tudo pronto e gravado.  Essa é a magia de acompanhar uma banda. Tudo pode acontecer, mesmo depois que vc acha que já tá tudo pronto. E será então, outro momento único, o que veremos e viveremos entre as paredes do Paiol da música. Porque a música é viva, apurada nesta constante inquietação tentando dizer o que nós, pobres humanos, às vezes nem sabemos. Ela cutucando dentro da gente para no final deixar a vista um pouco do que são e fazem estes caras iluminados pelo colorido das luzes do palco e pelos sons que estão por aí, prontos para serem abraçados.  
















7/02/2015

Rock de Inverno - 15 anos



É muito legal voltar a ouvir uma canção e reviver tudo – ou o que a memória permite! Não raras vezes essas canções cantam também os pedaços da vida de quem a ouve. Comigo é assim, quase sempre. Uma canção antiga é capaz de trazer cenas, lembranças, pessoas, pendengas, empreitadas boas, amigos, amigas, amores...

Por isso, mais uma vez bastou ouvir os primeiros acordes de Filme, do Cores d Flores para que meu ser inteirinho reagisse. Quando entrou “De Inverno”, d’OAEOZ, me toquei que estava ouvindo a coletânea Rock de Inverno – Mostra da Nova Música Independente de Curitiba. OAEOZ do tempo do Igor... aquele menino que um dia o Daniel levou lá em casa e que se transformou no parceiro musical primeiro do Ivan, que o apresentou ao Rubens... enfim. (eu avisei que é só ouvir que as histórias vão voltando).

Há 15 anos, nos dias 8, 9 e 10 de junho de 2000, no Circus Bar, acontecia a primeira edição do nosso primeiro grande desafio, o  Rock de Inverno – Mostra da Nova Música Independente de Curitiba , com os shows começando “impreterivelmente às 23h”.  rsrsrs. uma ‘briga’ nossa desde sempre esse negócio de horário de shows!







No palco,  Faus (banda do Coelio), Plêiade (‘retornando’), Zigurate, Loaded, OAEOZ (que acabou tocando na sexta), Cores d Flores, Madeixas, Quisto (depois Loxoscelle) e Zeitgeist co. Na plateia, muita gente, entre os quais, Carlota Cafieiro, jornalista do Correio do Povo, de Campinas, repórter do Alexandre Matias; e ele, o figuraça, uma atração à parte, o  músico e, na época, jornalista da Bizz, que acabou escrevendo sobre o festival para o Estadão: Minho K!






Na produção eu e Ivan, com  Mackoy ajudando no som, Marcelo Borges nas imagens e meus pais recebendo os jornalistas convidados, levando os dois para almoçar, enfim, fazendo as honras da casa enquanto eu e Ivan estamos nos respectivos jornais em que trabalhávamos (Gazeta do Povo e Jornal do Estado).  Lembro bem da ansiedade!!








A De Inverno nascia ali, antes mesmo de ter ciência disso. Nossa vontade era muito simples: mostrar para o Brasil essa nova geração da música curitibana, pós “Seattle brasileira”,  nascida em meados dos anos 90 em diante com canções em bom português. Mais ou menos na mesma época o Ivan preparou um kit sobre essas e muitas outras bandas da época e enviamos para jornalistas-chave. A gente não tinha dúvida da qualidade dessa nova safra e sabia que, se queríamos que o resto do mundo soubesse, alguém tinha que fazer alguma coisa. Uma das ações – além de organizar um festival bacana, com estrutura bacana, pensando nos artistas e na qualidade do equipamento de som – foi convidar jornalistas de veículos importantes para virem cobrir - leia-se bancar todos os custos da viagem e estadia.  Outra estratégia era ter bandas de outras cidades, também das novas cenas, para assim completar nossa proposta de “inserir essa nova geração curitibana na nova cena nacional”, o que fizemos a partir da terceira edição.

Material gráfico bonito assinado pelo Camarão e Alexandre Striq e um press kit que, além dos tradicionais releases e fotos, também tinha uma coletânea com uma música de cada banda, uma marca do Rock de Inverno, que deu início ao acervo do Selo.

Lá fui eu toda confiante como projeto na mão caprichado bater na porta de algumas empresas. Lembro muito da Cini, acho que foi para quem mais liguei.  Em uma tarde, lembro até o telefone público  (hoje inexistente, claro) do qual falei com o Ivan, à beira das lágrimas porque não me conformava: “como as pessoas podem não querer apoiar um projeto legal como este?”. É, eu achava tão improvável isso na época. Sonhadora, iludida! Hahahaha. Enfim, não rolou apoio e fizemos com nossos salários mesmo!  Pois é, vale sim ser sonhadora e iludida, às vezes!

A casa cheia nas três noites foi algo incrível.  Ao tentar voltar pra frente do palco no show da Plêiade uns engraçadinhos quiseram não me deixar passar... tá bom! Claro que eu ri e disse que era para ele me agradecer ao invés de me barrar e fui para o meu lugar preferido!

De outras cenas que não esqueço Minho K é a estrela.  Ele e seu indefectível chapéu. Lá pelas tantas, em algum dia, estava o jornalista estirado no chão, curtindo o som. Completamente tomado pelos sons das bandas que tanto curtíamos também!  Foi sem palavras, porque além de jornalista ele tocara em uma banda que eu e Ivan curtíamos há anos, embora pouco conhecida. Um disco que eu lembro do instante em que peguei nas mãos, com sua capa de vinil linda e suas canções incríveis. No final, eu e Ivan cantávamos canções do 3 Hombres, cada um de um lado do Minho K. E ele lá, sem acreditar naqueles dois doidos chorando de alegria e não acreditando ainda no que tínhamos feito.

Vendo hoje,  ainda que tivéssemos feito uma única edição do Rock de Inverno, aqueles três dias já teriam tornado tudo mais especial. Mas, não paramos. Veio o segundo, terceiro ( no 92, com 22 jornalistas convidados, entre os quais MTV, Folha, Estadão, Alto Falante), quarto, quinto (com a atração internacional, Transcargo), sexto e o sétimo (que trouxe Fellini e fez nossos amigos, marmanjos chorarem por aquele momento).

Entre erros e acertos, gosto da nossa história, tenho orgulho dela e ela me dá muito alegria ainda hoje.

E aqui, pra relembrar e reviver, o link com a coletânea Rock de Inverno - Mostra da Nova Mùsica Independente de Curitiba.

http://deinvernorecords.bandcamp.com/album/rock-de-inverno-2000