10/31/2013

Enxurrada

Sil saiu caminhando na chuva em direção ao portão. Não havia mais nada a dizer portanto também não havia o que fazer naquela hora. Era melhor mesmo caminhar um pouco e deixar a chuvinha fina que ameaçava engrossar bagunçar as luzes fracas que iluminam o parque. Guardou o óculos no bolso, acendeu um cigarro e tentou puxar o gorro o suficiente pra formar uma aba de proteção. A imagem dele falando coisas que ela não entendia sobre coisas que não aconteceram, como se mesmo vivendo na mesma casa há 10 anos tivessem estado em terras distantes, confundia tudo que acontecera nos últimos 60 minutos.
Sil nem sentiu quando uma pessoa passou a seu lado apressada esbarrando na bolsa com seu computador, única coisa que pegara ao sair de casa correndo. Ao ver a máquina se espatifar no chão algo aconteceu e foi como se o mundo tivesse vindo abaixo, num dilúvio de frustração desencadeado por um estalo inesperado!
Largada na calçada deixou o corpo arcar e soluçou, tanto, que se sentiu sem forças até pra levantar. Então, ficou ali. Sozinha no escuro, a chuva colando a roupa no corpo; sentindo a voz e até mesmo os soluços sumirem enquanto a enxurrada deixava só aquele frio gelado.
Do mesmo jeito que veio, a tempestade foi embora. E ela recomeçou os passos de onde parou. Meia volta lenta observando a água correr pelos cantos da rua de paralelepípedo, marrom, grossa... naquela água suja da chuva formando minúsculas ondas deixou correr junto toda aquela confusão de pensamentos e simplesmente seguiu até o fim da rua. Sil estava sem um pingo de vontade de existir, naquele resto de noite.

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