7/13/2011

quando esse galo canta volto a ser criança


Toda vez que esse galo canta no terreno ao lado eu volto um pouco a ser criança. Em insônia, já o ouvi cantarolando madrugada adentro - antes do horário madrugador desses bichos que costumam marcar a hora de pular da cama no interior. Ou, pelo menos, era assim, no meu tempo de interior. Hoje, não deixei pra depois e fui conferir o tal pra ver se era garboso como costumam ser essas aves.

Eles estufam o peito, donos do pedaço, e soltam a voz. Não tem pra ninguém. Me pendurei no muro dos fundos e pedi uma pose. Ele não se fez de rogado, estufou os pulmões e mandou ver, sempre com aqueles olharzinhos pra lá de irriquietos, ariscos, só medindo o indivíduo de longe. Assim eles nos confundem. Mas, vc sabe, instintivamente, que ele está (ou pretendia) olhando pra você, mesmo fazendo de conta que não. As galinhas, elas sempre estão por perto, ciscando por ali, logo se achegaram pra ver o que tava pegando.

Sempre houveram galos e galinhas nas casas onde morei - até aqui, minha mãe tinha um galo de estimação, acreditem se quiserem mas eu vi várias vezes ele atendendo o pedido de cantoria, feito um cachorrinho que vem quando a gente chama, e sem perder a altivez. Em relação a elas, numa mais fui próxima depois que, ainda bem pequena mesmo (e lembro disso até hoje, eu não tinha nem 5 anos eu acho), tentei ajudar uma cujos pintinhos estavam indo pruma enorme valeta e já não conseguiam mais sair sozinhos. E a idiota me atacou. Baita covardia dela, eu era muito pequena e só tava querendo ajudar. Nunca esqueci aquela agressividade e até entrei em galinheiro depois pra recolher os ovos, mas sempre com um pé atrás.

As voltas que a gente dá. Acabei me aquietando numa casa que me chamou a atenção exatamente pela cara de casa da vó Ina, que se abriu pra mim assim que botei os olhos naquela janela da cozinha que dá pro quintal. Só depois fui perceber que uma das divisas era com um pomar e que ali as galinhas ficavam pra lá e pra cá com seu próprio "ronronar" ou "arrulhar" (não sei a palavra correta, mas é o correlato a isso), entre árvores e um chão coberto do que delas cai.
E volta e meia, ainda hoje, me surpreendo com o túnel do tempo que é o canto desses galos bonitos. É um canto que me chama para os fundos da casa e que tira da memória os ruídos dos carros, abrindo espaço para eu me dar conta dos sons do nosso quintal: pássaros, folhas dançando com o vento,e vice-versa,os abacates caindo do pé...e o dia volta a ser bom, sempre que consigo parar tudo e fazer isso. (óbvio que esse é um texto da adri)

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