3/24/2010

"Outra Vez 'De Inverno' Apresenta: A Cena Independente"

"A coletânea, 'Rock de Inverno 7' é um carnaval memorável de máscaras e ritmos posso exergar as batidas de Pete de Freitas, as guitarras liverpoolianas de Echo and The Bunnymen, as gaitas de Culture Club e The Cure (eles tocavam gaitas?) há influências desde Duane Eddy às influências psicodélicas de Ronnie Von e um material choroso digno do cancioneiro de Altermar Dutra a Waldick Soriano! E inferninhos de beira de estrada."

Mário Pacheco - Do próprio bolso

confira a íntegra aqui

3/22/2010

Quando eu menos esperava a vida não falhou em surpreender


Faz dias que não pego o fone e ao ligar o aparelho é Jair Naves que ta tocando. O EP Araguari. Essas canções me acompanharam ao Uberaba, em ônibus lotados na ida, e vazios, na volta. Na ida, me distraíram das freadas e da algazarra da piazada; na volta, nada existia ao redor e pude até rabiscar apressada no primeiro pedaço de papel que apareceu na mão.
A força devastadora da música do Jair Naves já conhecia do Ludovic. Agora, ele joga na minha cara esse disco solo. Não pensei que seria possível, mas é ainda mais devastador que o punk raivoso que ele destilava sob a ‘proteção’ da banda. Aqui, o tipo de força que arrasta é outro. Também confessional, mas de um jeito diferente. A primeira palavra que vem a mente é mais calmo, mas não é isso não. É muito mais pessoal. As letras tocadas pelo Ludovic já traziam os seus (nossos) medos, confissões, estampados a ferro quente em cada braçada, em cada soco que ele desferia, na gente e nele mesmo, se debatendo em sua própria música, em suas próprias confissões, questionamentos e revoltas. Possuído por sua própria música que também nos possuía.
Mas lá, havia mais raiva primal. Aqui, há outros sentimentos. Cansaço, talvez. Uma pausa. Um acerto de contas – ele não ta cuspindo na cara de ninguém as verdades, ofensas merecidas. Agora ele se recolheu. Está cara a cara com ele mesmo – com o que ele viu em algum espelho que só ele vislumbra. Mais sutil, uma casca um tanto mais envelhecida – com aquilo de bom que o passar do tempo traz e também com suas marcas, bem a fundo. Como se passada a ansiedade, a euforia, a excitação e a certeza juvenis, que fervem a gente, sobrassem agora alguns escombros pra mostrar “que a vida passou e eu caí em nostalgia, mesmo de coisas que eu mal vivi, que dizer da inocência que eu deixei (...)” pela vida, no que foi feito dela.
Se antes ele estava em cima do palco com uma puta de uma banda de companheira, agora ele tá sozinho: num fim de noite sentado na beira de uma calçada, resto de cerveja quente dentro de um daqueles instantes cheio de uma certa sobriedade que só na bebida encontramos a coragem - e não se trata de uma escolha - pra ver.
Sei lá... To falando dele, de mim ou de nós? Vai saber..
Não sei para ele, mas pra mim isso lembra outra década chegando – e enfrentando a que acaba! Cara a cara com o que restou dela.

“E agora? O que é este disco?”, rabisquei no pedaço de papel de pão. Mais um acerto de contas com a vida como o são alguns discos? (Ou parecem ser). Um (outro) desabafo de solidão. Um doloroso e saudoso olhar pra trás a sentir saudade até do que não viveu. (Ah, mas eu vivi muito, e bem. Então o que é este disco?).
Um confronto, inevitável, com o que viveu. E o ver no espelho essa outra pessoa que (invariavelmente?) viramos.
Esses anos depois... um voltar pra dentro dos silêncios novos que largamos no caminho. E que nos habitam pra sempre, mesmo que os esqueçamos por alguns dias, instantes, anos, meses. No final dá tudo no mesmo, quando eles voltam.
E às vezes mostram suas mãos apertando a garganta
Por um fio
Bagunçados pelos amores que vemos chegar ao fim
(amores desperdiçados e inconfessos) guardados em diários de letras tão debilmente infantis
Araguari, curitibanos, paranavaí, irati, curitiba ou coronel vivida (não importa)
Com seus desbravadores meninos (e meninas)
Certos de suas certezas, e com seus céus que ficaram perdendo a gente, enquanto nós nos encontrávamos e nos perdíamos por nossas próprias contas.
Mais um disco que não consigo ouvir impunemente.

Começa assim: com uma reza de santa Maria, vozes de palavras duras. Um filme. Simplicidade musical para deixar as palavras se mostrarem em toda sua força.

(adri)

confira abaixo as letras de "Araguari I" - disco solo de Jair Naves.

Araguari I
“As lembranças que eu guardo de Araguari resumem-se ao dia em que fugi,
Caçado de perto por uma multidão, decidida a fazer justiça com as próprias mãos.
Ecoavam sermões pelas ruas dormentes, ninguém nada
tudo impunemente
O abandono é a pior traição, no fim das contas hoje eu te dou razão
Em minha defesa eu apelo ao obvio eu era novo e sem temor, eu tinha o mundo ao meu dispor
Só que a vida passou e eu caí em nostalgia mesmo de coisas que eu mal vivi, que dizer da inocência que eu deixei em Araguari.
Araguari o que foi que aconteceu, fui eu que te pedi ou você que me perdeu?
Foge a minha compreensão, foge a minha contenção mas eu te dou razão
O fato é que eu não sou mais quem eu era antes, eu voltei envelhecido e hesitante, hoje eu quem cuido dos meus pais e as crianças da nossa rua já não somos mais.
Já não somos mais.
Mas eu sinto saudade da nossa banda de cada palco em que pisei
de cada nota que eu cantei. E ainda me dá um nó na garganta pensar no sonhos que eu sonhei, na leveza dos amores que eu desperdicei
Ah, as brigas que eu comprei, meus amores inconfessos
... os sonhos que eu sonhei.”

E depois vem
“Silenciosa”
“passou, passou
Um dia eu me conformo e paro de me culpar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar, se não deu certo com a gente, acho que nunca vai dar.
Passou, passou
um dia eu me acostumo e paro de te importunar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar
Se não deu certo com a gente acho que nunca vai dar
Prometo que não demoro, quando estiver pronto eu te aviso
Se bem que eu não incomodo, pode ir agora que eu já não ligo
Só vê se não esqueceu nada e vê se não volta mais
Enquanto eu não me recobro, enquanto eu não estiver
bem
em paz
A cama ficou espaçosa, nosso quarto ficou mais frio
A casa silenciosa não me serve mais como abrigo
E foi consensual nós nem sequer discutimos
Tudo tão civilizado
Nem parecia comigo
Nossos amigos ainda questionam o que foi desta vez, qual a gota d’água, como eu consegui
afastar você de mim
Deve haver em tudo isso alguma lição, algo a ser aprendido, uma compensação pro quanto nós nos ferimos
pro quanto nós nos ferimos

Passou, passou
Um dia eu me conformo e paro de te culpar.
Passou, acabou
Sabe quando vc sente que não vale mais a pena lutar
Se não deu certo com a gente acho que nunca vai dar

E depois: De branquidão hospitalar, queimando em febre eu me apaixonei

“Num cômodo abafado, de branquidão hospitalar, via-se um mar de rostos borrados tentando te acordar. Você zombava desse empenho, da proteção que eu ofereci,
um demônio enfermo de quem eu não consigo me despedir
Delirante queimando em febre, você buscou a minha mão
A esse poder que você exerce eu nunca soube dizer não
Ela viajou como se possuída por um espírito ruim, dizendo prepare-se pra uma guerra eu não respondo mais por mim
E eu tão impressionável
me apaixonei
Eu me apaixonei
Eu me apaixonei.
O que em mim vc reconhece, eu reconheço em você
E no gosto da sua pele, as fraquezas que eu tento esconder
Quando eu menos esperava a vida não falhou em surpreender
E nada mais me entristece agora que eu encontrei você
Quando eu mesmo esperava a vida não falhou em surpreender,
nada mais me entristece agora que eu encontrei você
Não estou só.”

ouça

baixe

3/19/2010

Na mosca

"A audição repetida, valorizada, focada de um álbum que custou caro e que você levou meses para conseguir comprar, é uma experiência completamente diferente de ver um videozinho no YouTube ou baixar 1.000 canções em cinco minutos."

do blog do André Forastieri

3/18/2010

O valor da solidão


Gazeta de hoje
Mário Bortolotto retorna aos palcos com Música para Ninar Dinossauros, peça que estava em produção quando foi baleado em São Paulo

Cristiano Castilho

Foi com "um dedo só, catando milho e com uma dor violenta e constante nas costas" que Mário Bortolotto terminou de escrever o texto de Música para Ninar Dinossauros (confira o serviço da peça), peça que estreia nacionalmente hoje, no Festival de Curitiba. A montagem estava em gestação quando o dramaturgo paranaense foi ferido por tiros durante uma tentativa de assalto na Praça Roosevelt, em São Paulo, no dia 5 de dezembro.

O incidente, diz Bortolotto, não influenciou o destino da peça. “Pelo menos não diretamente”, confessa, em entrevista realizada por e-mail. “Tem sim, um tipo de melancolia brutal que tem a ver com o estado em que eu estava. Um jeito ainda mais descrente de olhar o mundo, mas a poesia sobrevive. Mesmo quando paramos de acreditar, a poesia continua lá, então a gente se permite continuar escrevendo”.

A história, encenada por seu grupo, o Cemitério de Automóveis, questiona a efemeridade das relações conjugais. Põe em xeque, por exemplo, o amor incondicional e sugere explicações várias para o fato de nos aproximarmos – também fisicamente – de outras pessoas. Em outras palavras, Bortolotto valoriza a solidão.

“Acho que as pessoas se juntam porque têm medo da solidão, de acordar no meio da noite e não ver ninguém ao seu lado. Não vejo nada de mais no fato de as pessoas agirem assim. Todos nós temos nossas muletas de sobrevivência. Mas eu gosto muito da solidão. E, quando estou cansado dela, sei onde encontrar companhia”, explica o dramaturgo de 47 anos, também autor de O Natimorto.

São três atores principais em cena, três amigos que rondam os 40 anos e, incapazes de manter relações ditas convencionais com mulheres, procuram garotas de programa. “De um jeito ou de outro, nós dependemos das mulheres pra continuar arrastando nossa velha carcaça bêbada por aí. Somos dependentes crônicos da presença delas”, comenta o autor. Estes mesmos personagens são vistos também 20 anos antes do momento presente – em meio aos anos 1960 e em todas as suas explosões sociais, políticas e culturais. A encruzilhada entre o momento estanque atual e a sensação libertária de duas décadas atrás é o mote principal do texto.

Além do retorno aos palcos e a Curitiba, onde morou por um ano, Bortolotto celebra em forma de parceria criativa sua amizade com o desenhista e escritor Lourenço Mutarelli (O Cheiro do Ralo), que praticamente estreia nos palcos como ator. “A motivação principal é que ele é meu amigo, e só trabalho com amigos. Além disso, é um ótimo ator. Para mim, é uma grande honra contar com ele no elenco”, elogia Bortolotto, que também dirige Paulo de Tharso.

Mesmo com algumas limitações físicas devido ao incidente – ainda há problemas de movimentação dos braços, por exemplo –, o dramaturgo nascido em Londrina continua trabalhando. “Eu trabalho ainda mais, mas muito mais devagar. Para um texto que eu escrevia em dez minutos, hoje estou levando uma hora”, exemplifica o autor, também integrante da banda Saco de Ratos Blues.

E, além de sua peça em cartaz no Sesc da Esquina, talvez se­­ja possível vê-lo nos palcos em outro tipo de performance. Gosto muito de vir tocar Rock-and-Roll em Curitiba. Espero que a gente consiga lançar em breve o nosso CD por aqui”.

Serviço

Música Para Ninar Dinossauros.

Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Dias 18, 19 e 20, às 21h. R$ 45 e R$ 22,50.

3/12/2010



Reprodução

Homenagem de Caio Futur

do estadao

Glauco foi líder religioso amoroso, mas exigente com discípulos

Da folha online

RICARDO FELTRIN
secretário de Redação da Folha Online


"Eu vi o meu povo amarrado
Todo acorrentado por falta de amor
Minha mãezinha estava comigo
E me sustentava com seu grande amor."


(Chaveirinho, "Águia Dourada", hino nº 15, por Glauco Villas Boas)

Uma vez Glauco sonhou que a igreja que ele criou, a Céu de Maria, no Jaraguá, era invadida por pessoas que fugiam de São Paulo. No sonho, contou Glauco, as pessoas fugiam da cidade desesperadas, por causa da violência, e ele temeu não ter como ajudá-las, pois eram muitas.

Glauco relatou esse sonho durante um ritual em 2000, no dia em que recebia e celebrava a iniciação de mais um grupo em sua igreja, na chamada cerimônia de "fardamento" --quando os fieis são oficialmente iniciados na doutrina.

Glauco ganhou o título de padrinho ao fundar a igreja Céu de Maria em meados dos anos 90, mas sua origem religiosa é muito anterior a isso. Ele contava que teve a primeira epifania mística ao ler livros de Carlos Castaneda, escritor e guru de uma geração, e autor entre outras obras do clássico "A Erva do Diabo". Definia Castaneda como o grande marco em sua vida.

Antes do Daime, Glauco frequentou centros de ensino esotéricos como Rosacruz, Eubiose e teosofia. Ele tomou o daime pela primeira vez na igreja fundada pelo escritor Alex Polari, na montanhosa Visconde de Mauá, no interior do Rio de Janeiro. Logo no primeiro trabalho diz ter visto "a luz" que modificaria sua vida para sempre. Começou sua caminhada como mestre reunindo um pequeno grupo de amigos em uma casinha no Butantã (zona oeste de SP).

Era lá que todos tomavam a amarga bebida sagrada, enviada pelos pioneiros da Amazônia, bebida feita da folha de planta chacrona e do cipó de mariri, e cujo preparo é também um ritual em si, chamado "feitio", e que pode se estender por até um mês. Glauco costumava se referir ao daime como "o vinho da floresta".

Para os vizinhos do Butantã, no entanto, não havia nada de sagrado nas celebrações, e era comum os trabalhos terminarem com a presença profana da polícia. Glauco, no entanto, teve sua missão reconhecida pela igreja central do daime no país, o Céu do Mapiá, no Acre, e com a benção de suas lideranças montou a própria igreja num grande terreno adquirido próximo ao pico do Jaraguá.

Com seu próprio suor, da mulher Bia e dos filhos de ambos, a Céu de Maria cresceu e, em alguns rituais, reúne mais de 300 pessoas, vindas de várias partes do mundo. Glauco, o padrinho, era querido e amável com todos, comandava os trabalhos no centro da igreja, sentado em um banquinho, acompanhando os cânticos com seu acordeão escuro.

De seu posto central, apenas usando o olhar, era capaz de agradecer ou admoestar o daimista ou visitante que estivesse ajudando ou atrapalhando o trabalho. Da mesma forma que era um líder carinhoso, não hesitava em interromper o ritual e ralhar com toda igreja quando notava falta de concentração ou dispersão.

Além de líder religioso, Glauco também era compositor e deixa para a doutrina que abraçou dois grandes hinários de fé, um conjunto de cânticos, como o descrito nos versos publicados no alto deste texto.

Esses dois hinários, o Chaveirinho e o Chaveirão, foram cantados anteontem à noite, dia de seu aniversário de 53 anos, quase no mesmo local em que ele partiu nexta sexta, vítima da violência que ele intuiu em sonho, mas não pode evitar na realidade.

Seus dois hinários serão cantados novamente hoje, em todas as igrejas daimistas do país, e voltarão a ser cantados todos os anos nesta mesma data, em memória à partida de Padrinho Glauco.

"Mataram o Glauco. Morremos um pouco também."

Não consigo acreditar, nem elaborar o que dizer sobre essa história do Glauco. Prefiro reproduzir um texto de um blog (Querido Leitor, de Rosana Hermann) que eu nem conhecia, mas que expressa perfeitamente o turbilhão de sentimentos que me atinge diante disso:

"Não consigo acreditar, assassinaram o Glauco. O Glauco, o cartunista, o criador do Geraldão, um cara do bem, da paz. Assassinaram ele e o filho dele. Na casa deles. A família em casa.

Vontade de chorar, de xingar, de berrar: mundo de merda, país de bosta, violência filha da puta.
Filha da puta.
Não dá pra fazer por menos, expressar por menos.
Assassinos, covardes, desgraçados.

O Glauco tentou negociar. Conversar. Como é que se conversa com monstros?

Glauco tocava sanfona em sua igreja do Santo Daime. Fui lá algumas vezes. O daime é recomendado para algumas pessoas viciadas em drogas, que tentam largar o vício e procuram paz, um ritual. Fui acompanhar um conhecido.

Fui lá. Tomei o Daime.
Glauco tocava sanfona, todos entoavam hinos. Homens de um lado, mulheres de outro. Tudo tão simples, tão intenso.

O Daime é feito de raizes, uma mistura. Essa mistura teve um efeito forte em mim. De tudo, uma palavra se fixou: firmeza.

Firmeza de fé, firmeza de caráter, de alma. Firmeza. Em todos os cantos, ela volta. Firmeza.

E agora minha firmeza se abala, verga como vara ao vento. Glauco foi assassinado. O o filho. De vinte e cinco anos.

Eu sei, vão dizer que muita gente morre no Brasil e que só comento porque ele era famoso. Cara, não é por isso. É porque ele produzia coisas pro mundo, porque era pai, marido, amigo, porque era simples e centrado, bom e justo. Porque era da paz. Porque tinha firmeza.

Dá raiva, dá revolta, dá vontade de chorar, de ficar puta da vida. Mas é hora de ter firmeza, de dizer o que se pensa, de ter coragem.

E é isso que quero dizer agora. Temos que buscar essa firmeza.

Temos que ser firmes na hora de punir esses assassinos. Firmes para lutar contra as injustiças, a corrupção. Firmes para enfrentar a chaga da violência e combatê-la em todo lugar. Todo lugar.

Firmes.

Assassinaram um pai. E um filho. E com eles, morremos todos um pouco.

Firmeza.
Ou a gente dá um jeito, ou vamos todos pro saco."

Superguidis lança terceiro disco

Foto: Thiago Piccoli

Nosso brother e parceiro Fernando Rosa, grande "capo" do Senhor F nos envia material sobre o novo lançamento do selo. E como o Fernando aqui não pede, manda, confiram abaixo.

A banda Superguidis realiza o lançamento nacional de seu terceiro disco neste próximo dia 20 de março, com show em Santa Maria (RS), no Macondo Lugar, responsável pelo festival independente mais importante do estado. O álbum traz 11 canções assinadas por Andrio Maquenzi e Lucas Pocamacha (veja abaixo) – Superguidis é Andrio (vocal e guitarra), Lucas (guitarra e vocal), Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria). O disco vem assinado pelos selos Senhor F (casa da banda desde a estréia, em 2006) e por Monstro Discos, o maior dos independentes nacionais. A produção é de Philippe Seabra, com mixagem do americano Kyle Kelso e masterização de Gustavo Dreher. A arte é de André Ramos.

O novo disco aponta para a consolidação da banda no cenário independente nacional como uma das mais criativas e produtivas entre as revelações dessa segunda metade da década que passou. Fiel e, de certa forma, parceira na construção da platafaforma independente, a banda gaúcha também tratou a internet como grande aliada. Com isso, tornou-se conhecida nacionalmente, o que abriu as portas do festivais e casas de shows, do que é exemplo a largada da turnê pelo Norte do país, com shows em Manaus, Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena, além de Cuiabá, Goiânia e Brasília.

Além de ter seu disco de estréia figurando em listas de melhores da década, e de ter seu show considerado um dos destaques do rock atual, a banda desenvolveu uma sólida carreira discográfica. Segundo eles, além da circulação, e do constante aprimoramento dos shows, discografia e repertório autoral são fundamentais para afirmar a banda no cenário independente nacional. O disco-bônus contendo show acústico (veja abaixo) realizado em Porto Alegre, em maio passado, é demonstração da quantidade de hits acumulados pelo quarteto. Apenas duas canções, do conterrâneos Prozak, não são de autoria da banda.

Sempre destacada por produzir "indie em português", neste terceiro disco o grupo afirma definitivamente sua linguagem particular, por meio de flashes poéticos e desencanados, identificada com uma visão de mundo do jovem suburbano desses novos tempos. Natural de Guaíba, cidade operária e dormitório de Porto Alegre, a banda traduz de forma universal o cotidiano do jovem que anda de ônibus/metrô, tem a "simplicidade de um tênis furado", faz uma faculdade pelo ProUni, mas que, mesmo com internet discada, corre atrás de informação.

O novo disco também premia as escolhas e estratégias de carreira da banda, que afirma-se no cenário nacional apostando na plataforma independente, sem afastar-se de sua realidade vivencial. A parceria dos selos Senhor F e Monstro Discos, assim como a presença de Fabrício Nobre (Macaco Bong, Black Drawing Chalks & Lucy and The Popsonics) como seu novo agente nacional, fortalecem o potencial de crescimento da banda, que conta com público em todas as regiões do país.

Baixe aqui o single: "Não fosse o bom humor"

3/10/2010

Just tell me about your life in art...

Muitas vezes cheguei em casa depois do trabalho satisfeita, com a sensação de missão cumprida, por conta de um bom papo que rendeu uma boa reportagem, ou simplesmente por conhecer uma pessoa com história de vida incrível – ou por falar com um artista importante para a cultura brasileira e pra minha própria vida. Mas, essa rotina boa sempre teve por perto o outro lado. A frustração, a confusão, a insegurança, o peso de sentir-se aquém do que gostaria. O cansaço ruim de sentir que poderia ter feito melhor ou o desgaste por ter que lutar tanto, gastar muita energia, pra argumentar sobre o que não deveria nem precisar de argumentação. Ou pior, o cansaço diante da expressão de ignorância de pessoas que não tinham o direito de exibir aquela ignorância, aquela arrogância... jornalismo cultural – uma das minhas paixões. Agora, estou em suspenso nesta área. To fora de jornal e por alguma razão não tenho sentido mesmo muita vontade de escrever sobre nada (bem, não é bem assim...). To fazendo um trabalho bem técnico.

Acordo cedo, vou pra uma sala com pessoas simpáticas, mas o assunto não provoca o menor envolvimento. Ouço, recebo instruções e faço o que pedem. Raras, muito raras, foram as vezes em que trabalhei assim....

E sabe, que pelo menos hoje, estou gostando?!!!!! Quem sabe não estava precisando mesmo dar essa descansada. Desde 1995 não ficava em casa mais de um mês, sem trabalhar, sem estar correndo pra chegar no horário para alguma coisa. E nem sei quanto tempo não chegava em casa sem esse peso – que às vezes é bom, sim – que a entrega incondicional provoca. Sempre fui do tipo que veste a camisa, que não conseguia parar de pensar no trabalho, simplesmente porque o trabalho que eu fazia era também a minha vida.

Nesse momento não é assim. Esse trabalho é um trabalho. Só isso. Acho que, finalmente, estou conseguindo refletir mais claramente sobre a minha profissão de repórter com mais distanciamento, sem ser tão passional. Depois de 3 meses sem “fazer nada” a não ser curtir meus bichos, meu amor, minha casa e a cidade.

Me sinto estranhamente calma, como se minha vida profissional estivesse mesmo em suspenso por um tempo. Não sei se vou voltar pra Cultura. O que sei é que neste momento minha ida pra algum jornal nesta editoria soa impossível. E isso não está me incomodando, tanto, embora me entristeça. Sigo aqui, ouvindo nossas canções perfeitas, enquanto reescrevo um texto frio, do jeito que querem que eu escreva. Básico do básico, sem maiores preocupações. Isso é tão raro na minha vida profissional que nem lembro quando aconteceu - se é que aconteceu.

Puxa vida, então é mesmo possível fazer jornalismo, reportar sem por a alma e o coração em cada linha? To aprendendo que sim. Se isso é bom ou ruim? Eu desconfio que não é bom, mas me parece que neste momento isso está me fazendo bem. Então vou terminar aqui, ao som da “nossa canção doce” a perfeita, My life in Art. (Adri)

3/05/2010

Hoje


Hoje me afastei da vida que sempre quis
por um pedaço de um triste afeto
eu me dei conta
de um certo olhar
certa vertigem
algum lugar

hoje despertei perto de mim
e decidi não mais sofrer
o que é o sofrer?
Não mais sentir
eu me despi da fantasia

hoje é mais um dia
hoje é mais um dia
hoje é mais um daqueles dias