12/31/2009

thats all folks

e pra terminar o ano bem, um momento que define 2009 pra gente. vídeos gravados pelo nosso grande brother e parceiro Luigi Castel, na passagem de som do Rock de Inverno 7. estrelando, Liquespace, Beto Só e 3 Hombres.

Saúde, alegria e felicidade pra todos nós em 2010 e no que mais vier.





12/29/2009

A incultura de todo dia

TEIXEIRA COELHO
FOLHA DE SP (para assinantes)

A cultura cristalizada, objetivada (museu, cinema, folclore) recebe atenção no Brasil. Não muita: alguma. É antes objeto de discussão que de apoio real. Mas recebe.
A microcultura, porém, que forma as relações humanas, a cultura interiorizada, modo de pensar e viver, continua à margem. Rala, esburacada, em frangalhos. A cultura formal e a cultura cotidiana seguem rotas paralelas que deveriam ser pelo menos convergentes.
Sinal claro é o Índice de Desenvolvimento Humano do país: 75º entre 182. Atrás de Sérvia, Rússia, Romênia, México, Uruguai, Argentina, Chile, Barbados, Hong Kong, Singapura, Bahamas, Costa Rica, Líbia... Índices falham. Mas algo mostram.
Integram esse índice a alfabetização e a escolaridade: quantos sabem ler e escrever, quanto tempo passam na escola. Quando se examina o conteúdo de uma e outra, a situação aqui assusta ainda mais.
Nos últimos dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), os estudantes brasileiros estão na 53ª posição em matemática, entre 57 países; e na 48ª, entre 56, em compreensão de texto.
Um abismo existe entre a cultura objetivada e a cultura vivida. O resultado é o autoritarismo em todas as suas formas (incluindo a corrupção) de humilhação e abuso cotidianos -do ônibus que não para junto ao meio-fio para recolher passageiros ao lixo espalhado nas ruas e às pessoas que, no metrô, querem entrar nos vagões antes que os outros desembarquem, como se os outros não existissem. A incultura faz isso: torna os outros invisíveis. Irrelevantes.
A violência crua é o modo duro da incultura. Com a ausência do Estado em uma de suas funções indelegáveis, as pessoas, desesperadas, querem proteger-se como possível. Terceirizar parece a saída. Ninguém quer saber se os contratados são capacitados. Passa-se a responsabilidade adiante e pronto. Tudo é questão de aparência. E a aparência, aqui, é violência. O Estado passa sua responsabilidade aos que já pagaram por ela e esses a repassam a terceiros, pagando de novo, sem ocupar-se do "produto". Se algo acontecer, a culpa é do terceiro. Não é. Mas todos pretendem que sim. Resultado, "o segurança" é, ele mesmo, não raro, fator de insegurança e da violência que deveria evitar.
É evidente que falo do assassinato de um jovem pelo "segurança" de uma padaria num bairro de classe média alta, ao lado de um ótimo hospital ao qual esse jovem não pôde chegar com vida. Tragicamente emblemático.
Enquanto isso, um economista diz que o Brasil logo será a quinta economia do mundo e que então terá sua autoestima.
Não terá. Sem a cultura como lastro e tecido, o país não se moverá um centímetro do horror que tentamos não ver.
Cruzar a ponte entre a cultura formal e a cultura interiorizada, que juntas sugerem, senão o amor, pelo menos o respeito pelo outro, não é o maior desafio: é o único desafio. A educação foi vista como panaceia universal. Não é. Educação sem cultura, como aqui, nada é.
Cultura tampouco é panaceia. É apenas, e não é pouco, a alavanca restante. Este texto é uma homenagem, ínfima, aos que em 2009 caíram sob o peso da incultura brasileira.

12/28/2009

Bortolotto recebe alta

da Folha Online

O dramaturgo Mario Bortolotto, atingido por tiros em uma tentativa de assalto na madrugada do último dia 5, recebeu alta hospitalar na manhã desta segunda-feira, informou o boletim divulgado pela assessoria de imprensa da Santa Casa.

mais aqui

12/23/2009

The Flaming Lips Doing The Dark Side of The Moon [2009]


É isso mesmo. Em seu novo disco, o Flaming Lips coveriza na íntegra o clássico Dark side of the moon, do Floyd. Forgado os cara.

aqui

12/22/2009

Tempo, tempo...

"Hoje, a grande maioria dos meus amigos se parece muito pouco com o que eram há quatro anos. Para o bem e para o mal, viraram gente que se resignou em um mundo que passa longe de seus sonhos - e têm pra si que não há mais nada a fazer além de maximizar o tempo livre e o dinheiro a ganhar."

do blog do Fernando Lalli.

12/17/2009

"Seja bem-vindo, Mario Bortolotto"

"Só quero dizer que o Bortolotto sobreviveu aos quatro tiros pelo mesmo motivo que a Bárbara Heliodora jamais vai entender o significado de sua obra. Ele sobreviveu porque é o Mario Bortolotto. Pelo mesmo motivo que me fez assistir a todas as peças dele, no mínimo umas vinte vezes cada uma, quero dizer que ele sobreviveu aos tiros porque é assim que acontece nos gibis que ele coleciona, ele sobreviveu para rir das piadas dos amigos, pelas noites de blues (das quais não participo), pelos tragos e pela sinuca e porque ele vem de longe e isso já faz um bom tempo, ele sobreviveu porque o Muttley e o Frankenstein de suas camisetas são à prova de bala, e porque ele reveza esses dois com Milles Davis, ele sobreviveu porque veio lá do Jardim do Sol e porque já havia sobrevivido à violência e ao amor do pai, ele sobreviveu aos quatro tiros porque nunca deixou de reagir à própria rotina e isso inclui (quem acompanha o blog dele sabe disso) levar quatro tiros no peito toda madrugada e fazer uma oração antes ou depois de ir dormir e acordar dilacerado, tanto faz sangrar na Santa Casa de Misericórdia ou na quitinete da rua Avanhandava; ele sobreviveu pelo amor de suas mulheres e pelo amor de sua filha; e porque a Fernanda D’Umbra foi mãe, mulher e filha e teve sangue frio e não esperou o Resgate chegar. Mais vinte minutos – segundo os médicos – e ele teria morrido."

(...)

"Um milagre todo ele é feito de coincidências e, às vezes, de um chiqueirinho de uma viatura policial que chega na hora certa, e é simples de entender: ele devia estar ouvindo La Carne no seu MP3 quando virou pro filhodaputa e disse “atira” e depois disse outra vez “atira, filhodaputa” e o filhodaputa descarregou a pistola, e o dramaturgo sobreviveu porque a luz que incide na poeira é exata e os seus diálogos são certeiros (quem viu as peças dele sabe o que estou falando); ele sobreviveu porque nunca precisou mais do que um sofá velho, três amigos e meia dúzia de latinhas de cerveja quente para contar suas histórias “vai lá garoto, vai fazer o que tem de ser feito” e também porque é um cavalheiro e porque é impossível um sujeito ser um cavalheiro se não for um touro também, sim, um touro que, depois de cinco dias já corcoveava na UTI, queria saber dos amigos, e escrevia seu primeiro bilhete depois do milagre “não chora filha, senão eu também vou chorar”; porque um milagre fica bem melhor com um pouco de poesia e outro tanto de prosa, por isso que ele agüentou o tranco: porque agora finalmente vai escrever o romance que eu e o Bactéria lhe cobramos faz um bom tempo, ele sobreviveu para poder voltar ao Hotel Marina no Rio de Janeiro, não aquele que acende, mas o Hotel Marina quando apaga, porque entendeu que é o mar que olha pra gente e não o contrário, ele sobreviveu porque domina a técnica de seguir na contra-mão e porque, quando levava quatro tiros no peito, ele, ao contrário do que muito filho da puta especulou, não estava brincando de representar, aliás, quando o cara tem uma 45mm apontada diuturnamente em sua direção, ele não tem alternativa diferente de dizer “atira, filhadaputa”, mas ele sobreviveu – também - porque intuitivamente sabia que a associação falsa que o jornalista almofadinha iria fazer sobre o assalto ao teatro e a “violência de suas peças” era tão mortífera quanto a 45mm que o atingiu, e ele sobreviveu para mais uma vez desmentir os canalhas, porque ele tinha de repetir que eles eram canalhas e que,embora estivesse pouco se cagando para a mentira deles (inclusive quando o ignoraram durante todos esses anos), ele não estava ali, no bar dos Parlapatões, fazendo teatrinho interativo para a distração de ninguém, ele sobreviveu porque teve a manha de assimilar golpes desleais até o último disparo e o nome disso é generosidade - ele sobreviveu porque seu anjo da guarda é casca grossa, e agora ele quer saber aonde é que foram parar seus coturnos, ele sobreviveu porque, entre muitas e iluminadas parcerias, fez dupla com o Carcarah, esse outro maluco que sabe o que é dar uma voadora na morte, Mario Bortolotto sobreviveu porque a mesma delicadeza que tira a vida de uns traz a vida de volta para outros."


Leia a íntegra do belo texto de Marcelo Mirisola no Congresso em foco

12/15/2009

Quem sabe, sabe


"Há sempre novos sons para imaginar, novas sensações para alcançar. E sempre há a necessidade de continuar purificando essas sensações e esses sons para que realmente enxerguemos o que descobrimos em seu estado puro. Para que possamos enxergar com uma clareza cada vez maior o que somos...temos de continuar limpando o espelho."

John Coltrane - extraído do livro "A Love Supreme - a criação do álbum clássico de John Coltrane - de Ashley Kahn.

"O que permanece comigo sobre o quarteto de Coltrane é a imagem deles subindo ao palco, sem falar um com o outro, pondo fogo na coisa por duas horas sem nenhuma palavra para ninguém, saindo do palco e se sentando como pessoas comuns. Nenhum entourage ou coisa do gênero em volta deles. Depois faziam tudo de novo, despretensiosamente, diretos e com absoluta honestidade. Assim era uma jornada de oito horas deles - não era entretenimento, não era diversão e brincadeiras. Ainda tento corresponder a essa imagem: faça seu trabalho, faça com intensidade, com convicção e seja honesto com a música".

De Dave Liebman, do mesmo livro.

12/11/2009



francamente. isso é tão flagrantemente bom que pela logica proibitiva do politicamente correto, deveria ser proibido. felizmente não é. benzadeus!

Moshcam



Essa semana descobri um site muito legal, Moshcam, que disponibiliza shows ao vivo completos para serem assistidos em streaming, com imagem de alta definição e som de primeira, e que tem uma lista de atrações de babar. Pra começar, só o show de janeiro deste ano do Spiritualized que tem lá já valeria a visita. Mas ainda tem Black Mountain, Mogwai, e muito mais. O legal é que dá pra assistir o show na íntegra, ou só as músicas que você quiser. Cãofiram! Acima, um pequeno exemplo, uma interpretação acachapante de "Shine a light".

12/08/2009

O preço da mediocridade

De toda essa terrível história que aconteceu com o Mário Bortolotto, o comentário que mais me chamou a atenção foi um texto do blog "Dramaticoblog´s blog", que eu achei através do blog do Ivam Cabral, do grupo Sátyros. No texto, a Márcia Abos conta que uma das coisas determinantes para a ocupação e revitalização da região da praça Roosevelt pelos grupos de teatro foi justamente a possibilidade dos bares locais manterem mesas na calçada, o que fez com que a criminalidade na região fosse reduzida durante um tempo. Ocorre que há três semanas as mesas tiveram que ser retiradas por conta de uma decisão idiota da prefeitura, resultante da reclamação de vizinhos. Na Gazeta de Hoje o Ivam Cabral conta que essa decisão foi motivada por um abaixo assinado com, pasmem, 29 assinaturas, de vizinhos que reclamavam de perturbação da ordem. O resultado foi que a região voltou a ser ocupada pela bandidagem, crackeiros e afins, os assaltos e a violência de sempre.
Isso sem falar que a própria praça em si está fechada há anos, a espera das obras de revitalização, que nunca chegam, porque os prefeitos que lá passaram ter que cortar verbas dessas obras pra poderem investir em propaganda.
Isso só comprova como as pessoas não percebem o preço que a mediocridade e a mesquinharia cobra. Ao invés da ocupação pelos artistas, prefere-se baixar proibições ridículas em nome "da ordem e do sossego". O resultado é que ao invés de uma ocupação sadia, pela arte, tem-se o esvaziamento da região central de São Paulo e de outras cidades do País, que se tornam território para a violência e a criminalidade. Quem paga por isso são aqueles que insistem em resistir, se negam a fugir, e não aceitam se esconder, como o Mário, e as outras pessoas que como ele ainda acreditam que a arte pode ser a resposta para a falta de humanidade. Enquanto na Europa e outros países, o poder público e a sociedade caminha justamente na direção contrário, ocupando o centro de suas cidades com arte, música, vida enfim, aqui a classe média se esconde atrás de seus carros blindados e condomínios fechados para não se misturar com a "ralé". Até quando a gente vai aceitar que os idiotas e medíocres continuem ditando as regras? não sei...

Reproduzo abaixo o texto, pra vocês conferirem.

Para salvar a Praça Roosevelt

Por Márcia Abos


Ao ouvir as palavras de ordem dos assaltantes que invadiram o Espaço Parlapatões na madrugada de sábado, mandando todos se deitarem no chão, Mario Bortolotto teria respondido: “Ninguém vai assaltar ninguém aqui”. Imagino a cena e me assombro com a coerência deste grande artista. O dramaturgo, diretor, ator, músico, escritor e poeta é de uma coerência rara. Jamais fez concessões em sua arte, tampouco na vida. A reação de Mario a um absurdo assalto em um teatro (alguém já ouviu falar de tiroteio em teatro?) diz muito sobre ele, que pagou um preço alto demais por ser fiel a si mesmo: foi alvejado por quatro tiros, alguns deles em órgãos vitais. Ninguém que o conhece duvida de sua recuperação. Ouve-se na praça amigos dizendo: “ele é um touro, um búfalo, vai sair dessa logo”. Vai sim, mas a tristeza e a dor que se abate sobre artistas e frequentadores da praça precisa de consolo.

Há dez anos teve início o processo de revitalização da Praça Roosevelt. Não, a praça não virou um local habitável e cheio de gente por decreto. Começou com Os Satyros que decidiram abrir um teatro no local. Mas ninguém ia até a praça, espaço na época dominado pela criminalidade. Era um lugar sinistro, que metia medo até nos artistas que iniciaram o processo. Mas eles logo entenderam que a praça poderia se transformar com uma injeção de vida. Colocaram uma mesinha com cadeiras na calçada, um convite para um bate-papo. Por muito tempo essa mesinha ficou vazia. Mas era um gesto simbólico, eles sabiam que não podiam recuar. E acertaram. O tempo provou que a praça pode ser ocupada pela paz, por muita alegria e uma ebulição artística sem igual. Demorou, mas a praça tornou-se um local digno deste nome, onde gente de todo tipo se reúne para ir ao teatro, trocar idéias, criar. A Praça Roosevelt é o que temos de similar a Ágora grega, um espaço livre e público.

Mas a tragédia que se abateu sobre a nossa praça na madrugada deste fatídico dia 5 de dezembro de 2009 é também sintoma de um retrocesso na revitalização que começou com uma mesinha na calçada. Há três semanas não existe mais nenhuma mesinha na calçada. É proibido. E a vida parece estar se esvaindo. Muita gente continua a ir aos teatros, mas terminada a peça eles se vão. Acabou o alegre burburinho antes e depois dos espetáculos, acabou a alegria de quem pode ver em uma noite duas peças diferentes e aproveitar os intervalos para filosofar.

Triste constatar, mas este é o caminho para transformar os teatros da praça em algo parecido com o que foi o vizinho Cultura Artística ou como é a elegante Sala Julio Prestes. São lugares de passagem, uma espécie de oásis das elites no meio de um entorno totalmente degradado. Quem vai à Sala Julio Prestes chega em seu carro blindado e com vidros negros, desce na porta escoltado por seguranças, evita olhar para os lados e ver os ‘nóias’ e entra para ouvir as mais lindas e bem executadas sinfonias. Acabado o espetáculo, a saída é ainda mais rápida que a chegada. O jantar, o cálice de vinho, a cerveja são consumidos bem longe dali, no Itaim, nos Jardins, na Vila Olímpia (ou qualquer outro bairro onde é impossível lembrar que existem moradores de ruas, drogados e mendigos em São Paulo).

Ninguém que conhece a Praça Roosevelt acredita que a arte que se cria ali pode sobreviver sem o oxigênio de um entorno vivo, que se alimenta e é alimentado pelo teatro. Portanto, convoco a todos a estarem na praça. Nossa presença é a única coisa que impede a sua degradação. Certo, é proibido mesinha na calçada. Juntos talvez seja mais fácil derrubar o decreto que as proíbe, este sim capaz de destruir nossa ágora. Se a revitalização da praça não aconteceu por decreto, sua degradação pode ser consequência de um decreto exdrúxulo que proíbe singelas mesinhas na calçada. E enquanto não pudermos ter mesinhas na calçada, estaremos lá, nos teatros, em pé, sentados no chão, andando de um lado para o outro…

12/04/2009

tuas mãos

não se iluda comigo
também vou embora um dia
mesmo que não saiba quando
nem porque

faça seu próprio caminho
diga o que quer
ou deixe o silêncio falar
até de manhã

a cortina azul entreaberta
na janela sempre fechada
a esperança de algum tempo
que não deu em nada

os copos jogados num canto
a roupa da velha estação
quem precisa da verdade
quanto tem tuas mãos

quem precisa da verdade
quando tem tuas mãos

12/03/2009

La Carne - Discografia



Taí uma belíssima notícia pra esse fim de ano. A melhor banda de rock do Brasil resolveu desencavar suas pérolas e fez uma nova prensagem dos seus três primeiros discos. Eu se fosse você não perdia essa oportunidade única de adquirir alguns dos melhores discos que o rock do Brasil (aquele que segundo alguns criticuzinhos por aí não presta) produziu, desde meados da década de 90. Eu tenho todos, mas já to pensando em comprar mais alguns pra dar pros amigos, ou simplesmente pra garantir, sabecomoé. Isso aí pode virar peça rara de colecionador com o tempo, nunca se sabe (eheh). Além do que a tiragem é limitada, portanto, não dá pra vacilar. Quem tiver bom gosto e for esperto, é só mandar um email pros meliante lacarne@lacarne.com.br