4/07/2008

Back to Brixton

Jornal do Estado

No segundo artigo de sua série das segundas-feiras, Marcelo Borges fala de Brixton

Marcelo Borges/Especial para o JE

Se você sair da estação de metro de Londres e ouvir “Sssskunk…. Ssskunk,... Skunk Mate”, pode ter certeza que pegou a Victoria Line e esta saindo da Brixton Tube Station. Brixton pra mim é uma mistura de Rio de Janeiro e Salvador em Londres. Brixton Road, a avenida do bairro, era um dos famosos caminhos que levam a Roma. Em Londiniun, aquela que os romanos fundaram, Brixton Rd era o lugar do mercado das especiarias do continente. Muita historia depois, o bairro renasce como símbolo da diversidade cultural que os ingleses, ainda assustados do pós-guerra, tiveram que engolir. Aqui, nos anos 50 chegaram os caras do caribe, muitos da Jamaica - cores e culturas que mudaram a cara do bairro pra sempre. Nunca se vendeu tanto incenso em Brixton. Reggae, dub, pot, jazz, cerveja red stripe, skunk, squatters e a policia nunca mais saíram de Brixton.

Vim parar aqui a primeira vez em 1990, mas não lembro de quase nada, a não ser das cores e da musica caribenha alta nas ruas. Foi uma visita rápida, e eu e uns amigos voltamos logo para casa, do outro lado do rio, com uma sacola cheia das especiarias de Brixton. Em 2004 pela primeira vez morei por três meses em Brixton Hill escondido no quarto da Patrícia - minha cara metade. Escondido porque a landlady miss Carmem, dona Carmem para nós, não podia saber que no menor quarto do mundo tinha um clandestino. Três meses andando escondido pelos corredores da casa pra chegar ao banheiro. Foi nesta epoca que descobri lugares como o The Windmill, pub fundamental na nova cena independente de Londres, que de segunda a segunda tem no minimo três bandas por noite.

No mercado, ar livre, feira livre, se pode comer de tudo, do pastelzinho de bacalhau a Sagres do portuga; do fish and chips, ao sempre indispensável traditional english breakfast. Também é o lugar de muitas peixarias e açougues, da até para conseguir picanha e alcatra brasileiros. E na esquina, tá lá o Brixton Academy, arquitetura clássica das mais belas que já vi e um do melhores lugares para ver um show. Em qualquer lugar se está do lado do palco. Dizem as mas línguas que quase foi vendido para o Edir Macedo. Inacreditável!

Pancadaria foi reação à repressão policial
Hoje estou passando um tempo na casa de um amigo que mora em um dos squatts mais antigos de Brixton. Este lugar esta ‘escotado” há mais de 22 anos. Fica do lado da Eletric Lane, que tem este nome, por ter sido a primeira rua com eletricidade do bairro. Da janela dá pra ver o relógio na torre do Town Hall, que fica em frente do Ritzy cinema na Oval Square.
Brixton é um bairro famoso principalmente pelos Race Riots, pancadaria mesmo, que rolaram nas ruas em 1981 e 1985. A moçada caribenha cansada pelo eterno Search, geral que a polícia dava constantemente nos moradores estrangeiros e nos locais, decidiu abrir a boca.
Basta de repressão. Começou nos anos 50 quando alguns jovens ingleses, na maioria rockers americanizados, que insistiam em tomar Jack Daniels perto da Escócia, e muitas vezes inspirados pelo BNP “British Nacional Party”, partido de inspiração neo-nazista, viram a sua “pureza racial” ameaçada pelos jovens caribenhos que seduziram as meninas inglesas.
Nos anos oitenta umas mil pessoas foram paradas na rua pela polícia em apenas um mês, simplesmente por serem estrangeiros, desempregados, pretos ou seguidores de Jah. Foi a gota d’água. Os jovens negros, filhos de imigrantes, na maioria jamaicanos, geração esta nascida na Inglaterra, “British Citizens”, incorporados no Britsh Way of Life, foram pra rua em protesto.
Foram apoiados pelos Punks e pelo Partido Socialista. Quebraram tudo. Carros incendiados, vitrines destroçadas... e assim a Inglaterra nunca mais foi a mesma. A diversidade cultural estava instituída na marra na cultura britânica.
EM TEMPO: Se o leitor quiser saber mais sobre brixton, uma boa dica é assistir a The clash rude boy, filme dirigido por Jack Hasan and David Mingay, que conta a história de Ray Grange que mora em Brixton e descola um trampo como roadie do Clash. Várias imagens do mercado de Brixton nos anos oitenta e cenas de um dos riots.

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