10/24/2007

Ficar só no sonho, é repetição

O poeta carioca chacal conversa sobre o lançamento de dois livros dos quais participa e poesia em geral

Chacal ganhou uma antologia e uma biografia do grupos que fez parte, o Nuvem Cigana
JE —
O que ficou de melhor e de pior desta fase?
Chacal — De melhor, a dimensão lisérgica, a psicodelia. Porque ela te dá outra dimensão da existência, uma possibilidade de utopia. De sonhar e ao mesmo tempo realizar coisas. E o pior é o excesso dessa mesma psicodelia. Descontrole, a desconexão com a realidade, quando se vai ao extremo. O sonho tem que ser feito acordado. Sonhar dormindo vai provocar só repetição sem realizar nada. Aquela época foi minha encubadora e aprendi essa coisas que tento realizar agora.

JE — O que a poesia provoca em você e o que ela pode fazer por nós hoje?
Chacal — Educação do espírito. Como se o teu espírito fosse um violão e você tivesse que afinar as cordas. O autor usa a poesia pra afinar essas cordas, ou seja, o seu ser. Pro leitor, é uma fonte didática tanto quanto o livro de matemática e Ciências. Estou cada vez mais convencido da importância da arte como educação. Mesmo que não se tenha consciência imediata, a pessoa está sendo transformada emocional e intelectualmente. Quero trabalhar cada vez mais profundamente nisso. Também é questão de mercado, pois se não houver esse tipo de educação a arte vai ser uma grande pastelaria. Porque as pessoas que estão no primeiro e segundo graus, fase de se educar, estão vendo Xuxa, lendo porcaria. A gente tem que tentar dar visão crítica. Não é dizer o que é bom, mas oferecer opções.

JE — Se fala nisso, mas é tão difícil notar algo concreto.
Chacal — É difícil mesmo, mas tem que brigar, não desistir. A mídia tem que dar valor ao conhecimento, pra que as crianças valorizem também. Elas não tem mais valor a não ser a roupa famosa. E falta também a dignificação do professor. Ele tem que poder se reciclar, se interessar. Como? Lendo, ouvindo, abrindo a cabeça. Tudo começa com professor. Senão, eu quero ir nas escolas e não consigo porque eles filtram.

JE — E a Cosac & Naify também tá lançando uma antologia sua...
Chacal — Estou feliz e ela cumpre uma função importante, de engrandecer o livro. Mas é cara e por isso não cumpre outra função, a de ser pro segundo grau, mais barato. Já estou preparando outro, com menos poemas, brevemente analisado, situando a época, pra entrar no programa nacional de biblioteca escolar. O Ministério da Educação compra e distribui. É bom duplamente: dá dinheiro para o autor e forma público. Se não pensarmos a médio prazo a poesia vai ficar só pra iniciados. Vai virar música, roteiro de cinema. Mas a coisa da poesia, da palavra solta, escrita ou falada, se não houver cuidado, já era. Os editores e poetas se conformam com o 500 leitores iniciados. Para as editoras é prestígio, e tem um prejuízo pequeno

JE — Como as gravadoras, as editoras também precisam achar outros caminhos?

Chacal — Ou faz isso ou acaba.

Nenhum comentário: