6/29/2006

Festival Tinidos 2006

do Scream Yell

por Tiago Agostini

Sexta-feira, dia 9 de junho, dia de abertura da Copa do Mundo. Em todo o Brasil, grande parte dos 180 milhões de habitantes respiram futebol, se preparando para a estréia da seleção canarinho. Em Curitiba, no entanto, nos próximos três dias a atenção estará dividida com a música, na segunda edição do Festival Tinidos. De Copa do Mundo, apenas os comentários pelos cantos do Motorrad Bar, que abrigará o festival, e o jogo entre as bandas no sábado à tarde, no hotel do evento.
Na verdade, o Tinidos 2 havia começado já na quarta, 7 de junho, com um pocket show dos cariocas do RockTed na FNAC Curitiba. Na quinta, quem deu as caras pela FNAC foi o Phonopop, banda de Brasília que emocionou os presentes com um show acústico. À noite, largada no Motorrad, com shows de Mordida (Curitiba), Superlego (Umuarama) e Pelebrói Não Sei? (Curitiba).
Aliás, um dos avanços do Festival em relação à primeira edição foi o local. Quem se lembrava dos shows de Poléxia e Ludov no ano passado nem acreditava que aquele fosse o mesmo lugar. Depois de passar por uma boa reforma, o Motorrad Bar ampliou seu espaço, permitindo mais conforto para público e banda. Agora, podia-se andar e respirar com tranqüilidade, sem que o bar tenha perdido seu estilo rústico que dá um charme ao ambiente. Os cariocas do Moptop abriram o terceiro dia de Festival na FNAC. Fazendo o primeiro pocket show de sua carreira, o "Strokes brasileiro" fez as cerca de 60 pessoas presentes cantar e dançar suas músicas mesmo tendo que controlar o volume da apresentação. Um bom aperitivo do show "pra valer" do dia seguinte. À noite, quem abriu a festa no Motorrad foi a banda mineira Ímpar. Com um instrumental seguro, o powerpop da banda escorrega nas melodias vocais, doces e chicletudas demais, lembrando, às vezes, Roupa Nova. Em seguida, o Phonopop atacou com um show elétrico e mostrou porque é uma das bandas mais respeitadas do cenário independente desde 2001, com seu rock britânico redondinho. Destaque para as canções Cidade-Labirinto e Já Não Há Tempo, sendo que esta última dá título ao bom álbum lançado por eles em 2005.
Mesmo com o bom show do Phonopop, o público só foi se animar mesmo com os locais Dissonantes. Mostrando uma mistura de Beatles, The Who e Jovem Guarda regada a muito teclado no último volume, os curitibanos trouxeram o público para a frente do palco, fazendo todos dançarem com as ótimas Um Filme a Dois e Amor Retrô, além da cover de Não Vá Se Perder Por Aí, dos Mutantes. Depois de uma hora de show e de um bis recheado, a banda provou ao vivo ser a nova revelação Mod de Curitiba, seguindo os passos da Relespública e dos Faichecleres.
Quem esperava o frio de Curitiba pôde senti-lo na noite de sábado. Acompanhado de uma garoa fina, ele recepcionou todos que foram assistir à principal noite do Tinidos. O Imperdíveis (SP) aqueceu o público com um punk rock básico e enérgico, amparado na boa presença de palco do vocalista Anabela, dançando com o pedestal e levantando-o todo tempo. Pena que a banda amoleça nas baladas, arrastadas demais, contrastando com a empolgação dos momentos mais punk. O grande show da noite (e do Festival) ficou a cargo da Poléxia. A energia do show dos curitibanos é inexplicável. Poléxia não é apenas música: durante a apresentação, Neto (bateria), Rafael (baixo), Dudu (teclado) e Rodrigo (guitarra) vibram e sentem cada acorde, cada mudança de tom e ritmo; mais do que cantar e tocar, incorporam as emoções de suas canções, contagiando a platéia. A performance de Dudu, pulando e dançando o tempo todo, é um caso a parte. As letras, diretas (destaque para Aos Garotos de Aluguel, com o refrão "eu vou te dar o teu prazer, mas com amor é mais caro") e reflexivas (como em Melhor Assim, "às vezes é melhor chorar do que sorrir, às vezes é melhor calar e ressentir") dão o toque final às canções. Músicas novas, como Inércia, apontam que a banda segue no caminho certo com seu auto-intitulado "pop alternativo".
Para fechar noite de gala entram os convidados principais, o Moptop. Gravando o primeiro CD pela major Universal, os cariocas são hoje a principal promessa de estouro do meio independente no mainstream (mais ou menos o que o Cachorro Grande era em 2005). Representando o "novo rock" no cenário brasileiro (é impossível não compará-los ao Strokes, mesmo que em alguns momentos a voz de Gabriel Marques lembre bastante a de Rodrigo Amarante, do Los Hermanos), os cariocas fizeram um show bem mais solto do que o do dia anterior. O baterista Mario Mamede não economizou no peso e desceu lenha na bateria com as baquetas viradas ao contrário, comandando os pulos da platéia que se aglomerava em frente ao palco. E, em termos de comparação com o Strokes, músicas como O Rock Acabou, Moonrock e Sempre Assim não deixam nada a desejar. O único pecado foi o excesso de covers no show (quatro, entre elas Seven Nation Army, do White Stripes), que tirou um pouco do brilho da apresentação.
O domingo, último dia de festival, teve escalação 100% caseira, além do início mais cedo (afinal, segunda é dia de labuta...). Perto das 21h30, o guitarrista André Ramiro sobe ao palco e começa a mexer nos mais de 10 pedais que estão dispostos no chão. Sons estranhos enchem o ambiente e surpreendem os presentes. Depois de cerca de cinco minutos de distorções e sons diferentes, os outros quatro membros do Ruídos/MM sobem ao palco. Mas o show já havia começado. A banda honra seu nome, apresentando um show instrumental recheado de rock progressivo e experimentalismos, utilizando múltiplas afinações e texturas sonoras, numa apresentação intimista.
Na seqüência, para manter o clima, o OAOEZ apresentou sua mistura de progressivo, hard rock e psicodelia. Destaque para a ótima balada Dizem, reflexiva, pungente e direta ("Dizem também que mantenho uma certa distância que dura mais ou menos dois copos, mas que depois me solto") e para o som crescente da banda, que preenchia aos poucos cada centímetro do Motorrad.
Para fechar a noite, e o festival, Bangalô. A banda aproveitou o momento para fazer o lançamento de seu primeiro CD, Feito à Mão. O pop-rock da banda contagiou o público, fazendo os familiares e amigos cantarem juntos.
Quase uma hora da manhã de segunda-feira, final de festival, é hora de pegar o caminho da rodoviária. O som redondo e a qualidade dos shows deixam a certeza de que a viagem valeu. O Tinidos cresceu não só em dias nessa segunda edição, mas também em organização. Um bom incentivo e impulso para uma cena borbulhante, que cresce a cada ano, mas que soa ainda um pouco desorganizada, como a de Curitiba. No final, nem importou perder alguns jogos do Mundial da Alemanha por causa do sono. A boa música venceu.

Um comentário:

Anônimo disse...

acho que até aparecerei lá no era ó...quero ver ao vivo o cidadão..diz que até 21h30 não paga entrada...será????