6/29/2006

Festival Tinidos 2006

do Scream Yell

por Tiago Agostini

Sexta-feira, dia 9 de junho, dia de abertura da Copa do Mundo. Em todo o Brasil, grande parte dos 180 milhões de habitantes respiram futebol, se preparando para a estréia da seleção canarinho. Em Curitiba, no entanto, nos próximos três dias a atenção estará dividida com a música, na segunda edição do Festival Tinidos. De Copa do Mundo, apenas os comentários pelos cantos do Motorrad Bar, que abrigará o festival, e o jogo entre as bandas no sábado à tarde, no hotel do evento.
Na verdade, o Tinidos 2 havia começado já na quarta, 7 de junho, com um pocket show dos cariocas do RockTed na FNAC Curitiba. Na quinta, quem deu as caras pela FNAC foi o Phonopop, banda de Brasília que emocionou os presentes com um show acústico. À noite, largada no Motorrad, com shows de Mordida (Curitiba), Superlego (Umuarama) e Pelebrói Não Sei? (Curitiba).
Aliás, um dos avanços do Festival em relação à primeira edição foi o local. Quem se lembrava dos shows de Poléxia e Ludov no ano passado nem acreditava que aquele fosse o mesmo lugar. Depois de passar por uma boa reforma, o Motorrad Bar ampliou seu espaço, permitindo mais conforto para público e banda. Agora, podia-se andar e respirar com tranqüilidade, sem que o bar tenha perdido seu estilo rústico que dá um charme ao ambiente. Os cariocas do Moptop abriram o terceiro dia de Festival na FNAC. Fazendo o primeiro pocket show de sua carreira, o "Strokes brasileiro" fez as cerca de 60 pessoas presentes cantar e dançar suas músicas mesmo tendo que controlar o volume da apresentação. Um bom aperitivo do show "pra valer" do dia seguinte. À noite, quem abriu a festa no Motorrad foi a banda mineira Ímpar. Com um instrumental seguro, o powerpop da banda escorrega nas melodias vocais, doces e chicletudas demais, lembrando, às vezes, Roupa Nova. Em seguida, o Phonopop atacou com um show elétrico e mostrou porque é uma das bandas mais respeitadas do cenário independente desde 2001, com seu rock britânico redondinho. Destaque para as canções Cidade-Labirinto e Já Não Há Tempo, sendo que esta última dá título ao bom álbum lançado por eles em 2005.
Mesmo com o bom show do Phonopop, o público só foi se animar mesmo com os locais Dissonantes. Mostrando uma mistura de Beatles, The Who e Jovem Guarda regada a muito teclado no último volume, os curitibanos trouxeram o público para a frente do palco, fazendo todos dançarem com as ótimas Um Filme a Dois e Amor Retrô, além da cover de Não Vá Se Perder Por Aí, dos Mutantes. Depois de uma hora de show e de um bis recheado, a banda provou ao vivo ser a nova revelação Mod de Curitiba, seguindo os passos da Relespública e dos Faichecleres.
Quem esperava o frio de Curitiba pôde senti-lo na noite de sábado. Acompanhado de uma garoa fina, ele recepcionou todos que foram assistir à principal noite do Tinidos. O Imperdíveis (SP) aqueceu o público com um punk rock básico e enérgico, amparado na boa presença de palco do vocalista Anabela, dançando com o pedestal e levantando-o todo tempo. Pena que a banda amoleça nas baladas, arrastadas demais, contrastando com a empolgação dos momentos mais punk. O grande show da noite (e do Festival) ficou a cargo da Poléxia. A energia do show dos curitibanos é inexplicável. Poléxia não é apenas música: durante a apresentação, Neto (bateria), Rafael (baixo), Dudu (teclado) e Rodrigo (guitarra) vibram e sentem cada acorde, cada mudança de tom e ritmo; mais do que cantar e tocar, incorporam as emoções de suas canções, contagiando a platéia. A performance de Dudu, pulando e dançando o tempo todo, é um caso a parte. As letras, diretas (destaque para Aos Garotos de Aluguel, com o refrão "eu vou te dar o teu prazer, mas com amor é mais caro") e reflexivas (como em Melhor Assim, "às vezes é melhor chorar do que sorrir, às vezes é melhor calar e ressentir") dão o toque final às canções. Músicas novas, como Inércia, apontam que a banda segue no caminho certo com seu auto-intitulado "pop alternativo".
Para fechar noite de gala entram os convidados principais, o Moptop. Gravando o primeiro CD pela major Universal, os cariocas são hoje a principal promessa de estouro do meio independente no mainstream (mais ou menos o que o Cachorro Grande era em 2005). Representando o "novo rock" no cenário brasileiro (é impossível não compará-los ao Strokes, mesmo que em alguns momentos a voz de Gabriel Marques lembre bastante a de Rodrigo Amarante, do Los Hermanos), os cariocas fizeram um show bem mais solto do que o do dia anterior. O baterista Mario Mamede não economizou no peso e desceu lenha na bateria com as baquetas viradas ao contrário, comandando os pulos da platéia que se aglomerava em frente ao palco. E, em termos de comparação com o Strokes, músicas como O Rock Acabou, Moonrock e Sempre Assim não deixam nada a desejar. O único pecado foi o excesso de covers no show (quatro, entre elas Seven Nation Army, do White Stripes), que tirou um pouco do brilho da apresentação.
O domingo, último dia de festival, teve escalação 100% caseira, além do início mais cedo (afinal, segunda é dia de labuta...). Perto das 21h30, o guitarrista André Ramiro sobe ao palco e começa a mexer nos mais de 10 pedais que estão dispostos no chão. Sons estranhos enchem o ambiente e surpreendem os presentes. Depois de cerca de cinco minutos de distorções e sons diferentes, os outros quatro membros do Ruídos/MM sobem ao palco. Mas o show já havia começado. A banda honra seu nome, apresentando um show instrumental recheado de rock progressivo e experimentalismos, utilizando múltiplas afinações e texturas sonoras, numa apresentação intimista.
Na seqüência, para manter o clima, o OAOEZ apresentou sua mistura de progressivo, hard rock e psicodelia. Destaque para a ótima balada Dizem, reflexiva, pungente e direta ("Dizem também que mantenho uma certa distância que dura mais ou menos dois copos, mas que depois me solto") e para o som crescente da banda, que preenchia aos poucos cada centímetro do Motorrad.
Para fechar a noite, e o festival, Bangalô. A banda aproveitou o momento para fazer o lançamento de seu primeiro CD, Feito à Mão. O pop-rock da banda contagiou o público, fazendo os familiares e amigos cantarem juntos.
Quase uma hora da manhã de segunda-feira, final de festival, é hora de pegar o caminho da rodoviária. O som redondo e a qualidade dos shows deixam a certeza de que a viagem valeu. O Tinidos cresceu não só em dias nessa segunda edição, mas também em organização. Um bom incentivo e impulso para uma cena borbulhante, que cresce a cada ano, mas que soa ainda um pouco desorganizada, como a de Curitiba. No final, nem importou perder alguns jogos do Mundial da Alemanha por causa do sono. A boa música venceu.

6/25/2006

Videomaker "publica" mais de 100 vídeos de bandas curitibanas


(a Gazeta publicou hoje texto sobre os vídeos do Marcelinho no You Tube. Como o conteúdo da Gazeta na internet só pode ser acessado por quem é assinante, não tive como reproduzir aqui o texto na íntegra. Aí embaixo vai então o texto resumido publicado pelo site Tudo Paraná, da mesma Gazeta)


Marcelo Borges registrou os últimos 15 anos do rock curitibano

A cena rock da capital paranaense ganhou espaço na rede mundial de computadores. O site You Tube (http://www.youtube.com/) oferece 101 vídeos feitos pelo videomaker Marcelo Borges, atualmente radicado em Londres. São registros de shows, clipes e exemplares de sua produção como videoartista, que compõem um panonarama do underground curitibano dos últimos 15 anos.A banda Jully et Joe, por exemplo, aparece com seu primeiro vídeo, datado de 1991. Mas há também trabalhos mais recentes, como os produzidos para os grupos Poléxia, Sofia, Íris, Limbonautas, OAEOZ e Magnéticoss. Porém, o grosso da coleção são os registros do festival anual Rock de Inverno, que desde 2000 escala bandas de vários estilos para as noites de apresentações. Com isso a lista de artistas fica maior: Relespública, Cores D Flores, Plêiade, Loxoscelle, Trio Quintina, Zaius, Svetlana, Pelebrói Não Sei?, Magog, Excelsior, AAAAAA Malencarada, Quisto, Zeitgeist Co., Loaded, Criaturas, Zigurate, entre outros.Criado em 2005 pela empresa americana PayPal, o You Tube recebe e disponibiliza todo o tipo de conteúdo audiovisual. Em março deste ano, o site atingiu a marca de 20 mil novos vídeos cadastrados diariamente por internautas de todos os cantos do planeta. A busca é fácil e não é preciso fazer download.

Gazeta do Povo Online com informações do repórter Omar Godoy - Gazeta do Povo

6/06/2006

E lá vamos nós...




Depois de 8 meses escondidos, trabalhando, o ruído surgirá completo e pretende mostrar as novas tendências de estudo no domingo, dia 11 de junho no motorrad. Uma nave pronta para o ataque. Aqueles que lá estiverem, fechem os olhos e aguardem o contato para a transcendência. Será a estreia do piloto Giva na bateria...Somas são aceitos....
Oaeoz vai estar mostrando suas novas tendências também, uma apresentação recheada de canções que deverão compor o próximo disco. A nave quinteto prepara o ataque logo após da apresentação ruidosa, ou seja, continue de olhos fechados, mesmo no intervalo.... bons sonhos....

André Ramiro

Novos tinidos que se espalham pela cidade

OAEOZ é atração do último dia da mostra, domingo.

Jornal do Estado hoje

Começa amanhã a segunda edição do festival independente curitibano Tinidos, que vai se espalhar por três lugares este ano. Amanhã, a festa de lançamento será no korova, mas antes tem pocket show na Fnac, com entrada franca, da banda carioca Rock Ted, no lugar da Polar, ao lado de grupos do interior do Estado, da capital, de Brasília e Rio de Janeiro. Os shows completos serão no Motorrad, noite adentro.
Era para ser mais fácil esta segunda edição, mas como a vida de independente exige sempre um plano b na manga, com o Tinidos não está sendo diferente. A programação que segue até domingo não conseguiu um patrocinador e conta com apoios em forma de permutas - e as bandas convidadas de outros lugares estão pagando a viagem. Os apoios ajudaram na estadia dos músicos e aluguel de som. Mas faltam “detalhes” que não interessam para platéia e maioria das bandas, mas deveriam, no mínimo, porque provocam algumas reflexões - e também refletem a falta de incentivo e a tão discutida inexistência de uma política cultural. Não bastasse isso, ainda tem banda local que nem ajuda na divulgação. Mas, não é o caso de chorar as pitangas, pois se assim fosse, não teria Tinidos este ano – e ele taí.
De Umuarama vem a a Superlego, que toca na quinta-feira



“Achamos que por estar maior estaríamos mais sossegados. Mas não foi o que aconteceu, não estamos conseguindo nem pagar as passagens dos grupos convidados”, diz Fernando Souza, da produção.
É impossível negar que isso é sintoma de um retrocesso que agora parece engrossado até por bandas locais cansadas de “vestir a camisa”. “E da iniciativa privada que não vê no meio independente um potencial, não percebe que neste circuito tem um um público fiel e tem trabalhos bem feitos, coisa séria”, pondera Souza. As leis de incentivo, no caso de festivais anuais, se tornam quase inviáveis pelo tempo de trâmite que exigem. “Dá uma desanimada, porque a gente esperava ter patrocínio. Mas, também estávamos preparados para o que está acontecendo, já sabemos como é ser produtor de música aqui”, diz Souza.
Mas, não tem nada não, emenda. O segundo Festival Tinidos já está fazendo a trilha sonora da semana e o som vai rolar na Fnac e no Motorrad até o próximo domingo. O Projeto Tinidos também mantém um site (www.tinidos.com.br), com entrevistas, coberturas de shows e viagens, resenhas, agenda, rádio online e um guia de casas de shows, imprensa, bandas, selos e gravadoras. Somente em 2005, com apenas 6 meses de existência, o Projeto realizou 15 shows. (AP)
Programação Festival Tinidos
Dia 7
a 19h — Pocket-show com Rock Ted (RJ) e coquetel para a imprensa na Fnac (R. Viriato Parigot de Souza, 5000), sempre com entrada franca.
a 22h — Festa de lançamento do festival com discotecagem Tinidos no Korova Bar
Dia 8
a 19h — Pocket-show com a brasiliense Phonopop e debate sobre o rock independente nacional com a participação de Emanuel Moon (Relespública), Fernando Brasil (Phonopop),
Adriane Perin (Jornal do Estado), Getulio Guerra (PrasBandas) na Fnac.
a 23h — Shows: Mordida, Superlego (Umuarama) e Pelebrói Não Sei, no Motorrad Bar (R. Trajano Reis, 418), sempre com ingressos a R$10.
Dia 9
a 19h — Pocket-show com a carioca Moptot e debate com a participação de Marielle Loyola (Cores d´Flores), Abonico Smith (TV Educativa), Álvaro Jr. (Movimento Música Curitibana), Gabriel Marques (Moptop) na Fnac.
a 23h — Shows com Impar (BH), Phonopop, e Os Dissonantes, Motorrad Bar
Dia 10
a 23h — Shows com Imperdíveis (SP), Poléxia e Moptop, no Motorrad Bar
Dia 11
a20h — Shows com Ruído/MM, OAEOZ e Bangalô, no Motorrad Bar

Site do Festival - www.tinidos.com.br/festival

Contato - contato@tinidos.com.br

6/05/2006

Notícias do outro lado do Atlântico

Marcelo Borges está em Londres desde 2003 se dividindo entre a marcenaria e a produção de vídeos

Jornal do Estado hoje

O fotógrafo e vídeomaker Marcelo Borges completou a marca de 100 vídeos no You Tube, a maioria de bandas curitibanas

Adriane Perin

A história de brasileiros que vão tentar a vida em outros países não é nenhuma novidade. Alguns vão compelidos por afinidades estéticas e por considerarem que suas propostas artísticas terão mais abertura, além, principalmente, de mercado de trabalho. Foi essa combinação que moveu o fotógrafo e videomaker Marcelo Borges para Londres. A razão que o levou a tentar pela terceira vez - a menos aventureira, digamos assim, mas sem deixar o clima de mochila nas costas totalmente de lado – foi o fato de que em sua cidade natal era difícil manter em dia as contas mais corriqueiras. E se é para ir para outra cidade que seja um bem longe, nada de São Paulo ou Rio de Janeiro.
A jogada deu muito certo e ele passa bem, produzindo seus vídeos, trabalhando com gente que lança moda na música pop. Seu mais mais recente aliado para dar vazão as criações é o site You Tube, que permite a disponibilização de produções audiovisuais na rede mundial de computadores.
Na semana passada Borges atingiu a marca de 100 vídeos, vistos por mais de seis mil pessoas. Além de clipes de várias bandas brasileiras, tem as propostas mais conceituais de Borges, algumas inéditas outras já conhecidas como o Única Coisa. Aos poucos sua intenção é colocar no site tudo o que produziu.
Entre os clipes já disponíveis estão os da paulista Hurtmold, os da carioca Casino, além de vários de grupos curitibanos de diferentes épocas: Trio Quintina, Zeitgeist, Cores d Flores, OAEOZ, Poléxia, Charme Chulo, Ruído MM, Svetlana, Sofia, Eletric Haven, aaaaaamalencarada, Plêiade, Magnéticoss. Entre os inéditos estão os clipes que são trechos do DVD Rock de Inverno 5, com a performance de bandas como a inglesa Transcargo, na quinta edição do festival curitibano, cujo material completo está previsto para o segundo semestre.
Em Curitiba, Borges também foi dono de bar, dos históricos Poeta Maldito e The Hole e tem em seu acervo imagens, em vídeo e fotografias, do nascimento da cena curitibana de música que se formou em torno do 92 Graus, no começo dos anos 90. São mais 1, 5 mil negativos e acima de 150 horas de imagens em vhs – preciosidade que aguarda atenção para não perder o registro desse pedaço da história da música curitibana contemporânea.
Marcelo Borges está num momento muito interessante e produtivo em Londres. Se das outras vezes entrou driblando as autoridades britânicas e conheceu de perto as artimanhas que permitem a sobrevivência num ambiente underground de verdade, desta vez ele está com tudo nos conformes da lei. De quebra, faz viagens que são valiosas experiências de vida, como a de bicicleta pelo Reino Unido, ele e a namorada. decididos a entender quem são os ingleses no meio de tanta gente de outros lugares do mundo. Ele também tem outros projetos interessantes de documentários comportamentais em curso.
Ele também se garante com a marcenaria, ófício que sempre lhe deu prazer e lá rende uma grana. Isso entre um convite e outro para filmar festivais como o Glastonbury ou para fazer luz em algum clube que irradia música alternativa para o mundo, como o Neighbourhood. “È do Bem Watt, do Everything But The Girl. Fiz um dia de bobeira, a luz ao vivo para uns djs e era o cara quem estava tocando, gostou e me contratou”, contou ele. “O lugar é fresco e só tem gente famosa com suas garrafas de champagne”, conta sobre o lugar onde, há um ano, apareceu o vocalista do Blur para dar uma palhinha, curtiu o trabalho do curitibano e pagou os drinks. “Thanks, Damon”.
Agora, os próximos planos são ir para Polônia e Russia, de onde, com certeza, sairão novos documentários sempre com esse olhar de andarilho de Borges, que segue deixando pegadas fortes lá do outro lado e aqui. “São muitos projetos a vida ta boa, não dá mais pra reclamar’, diz.

Serviço
Para conhecer o trabalho de Marcelo Borges é só acessar:

http://www.youtube.com/profile?user=marceloborges

6/03/2006

lembranças


e aqui, De inverno, demo de 1999
nessa versão, além das cinco faixas da original
tem várias outtakes, de shows, jams, etc
tosqueira


DOWNLOAD

AUTOPIRATARIA

é isso
dois discos do OAEOZ agora estão disponíveis para serem baixados, completos, no rapidshare e megaupload. Dias (2001) e Às vezes céu (2005). Com capa e tudo

é só clicar nos links abaixo

rapidshare

megaupload

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6/02/2006

Tateando em busca do elo perdido...

Paulo Barnabé
Cada vez mais me convenço de um dos grandes problemas da cultura paranaense não é a falta de identidade cultural do Estado, mas a falta de consciência dessa identidade, por absoluto desconhecimento sobre a nossa história e sobre a história de nossa produção cultural. É o velho clichê de quem não conhece o seu passado não tem futuro. E um dos motivos para esse desconhecimento é justamente a dificuldade de acesso as informações sobre essa história, seus personagens e realizações. Por isso, quando acontece da gente topar com um livro como “Na boca do bode – entidades musicais em trânsito”, de Fabio Henriques Giorgio, é inevitável ser assaltado pela sensação de descoberta e revelação de algo que ao mesmo tempo está tão próximo, e tão obscurecido pela desinformação. O livro se propõe a contar a história da geração que ficou conhecida como “Vanguarda Paulista”, mas que na verdade foi gestada aqui no Norte do Paraná, tendo Londrina como epicentro. Geração essa que deu ao Brasil nomes como os irmãos Arrigo e Paulo Barnabé e o “Nego Dito” Itamar Assumpção – responsáveis por uma verdadeira revolução na música brasileira, ao desafiar os grilhões dos formatos tradicionais de canção, injetando atonalismo e experimentalismo na música popular, chocando tanto acadêmicos quanto o público médio, e deixando a mídia desconcertada. O marco inicial é o show realizado por eles, tendo como produtor o hoje escritor Domingos Pelegrini, em março de 1973, no Teatro Universitário de Londrina, e que já trazia em seu repertório a versão inicial de Clara Crocodilo.
Arrigo, com a camisa do LEC, no festival da Tupi, em SP, 1979

Mas o livro faz um panorama extenso e ramificado de toda o contexto social, político e cultural que fez essa geração germinar e aparecer para o Brasil e o mundo. Desde que o livro chegou as minhas mãos ontem à noite, através da Adri, que não consigo desgrudar dele, e mesmo só tendo dado uma passada superficial a cada página que abro é uma descoberta e uma surpresa. Uma delas, por exemplo, foi saber que o Nego Dito, antes de se radicar em Arapongas, de onde seguiria para Londrina após iniciar seu envolvimento com teatro e música, teve como primeira morada no Norte do Paraná, para onde veio depois que sua avô, com quem ele morava no interior de São Paulo, morreu, nada mais nada menos que minha cidade natal, Paranavaí, onde o pai de Itamar trabalhava como fiscal do IBC (Instituto Brasileiro do Café).

Benedito Santos Silva Beleléu vulgo Nego Dito cascavé

Também é interessante saber que um dos gurus desse pessoal todo foi o maestro tropicalista Rogério Duprat, de quem partiu a primeira proposta para que eles fossem pra São Paulo, onde gravariam seus primeiros discos. E foi por isso que eles acabaram taxados de “Vanguarda Paulista”. Porque foi lá que eles se tornaram conhecidos do Brasil. Mas toda a gestação do “projeto musical” desse pessoal na verdade se deu no Norte do Paraná. Tanto que o Arrigo fez questão de em um festival da extinta TV Tupi de São Paulo, tocar com a camiseta do Londrina Esporte Clube (LEC), como aparece em uma das fotos do livro. E é muito legal perceber que muito daquilo que a gente pensa, sonha, luta, persegue já tinha um paralelo nessa geração, que por sua vez tinha na geração do Duprat, que desafiou as fronteiras do erudito/popular, do bom/mau gosto, do cafona/sofisticado, da caretice/maluquice, também uma referência básica.

“O paranaense Arrigo Barnabé, então obscuro estudante de música da USP não vacilou. Mesmo sob o ardil da vaia. Sua participação no 1º Festival Universitário da Música Brasileira promovido em São Paulo pela TV Cultura, causou espécie. Bombástico no palco, desconhecido no vídeo (ainda) inédito em disco. Entrava para a história arrombando a festa e a casa grande do latifúndio MPB. Saíam os repertórios redundantes, as melodias com intervalos regulares, a reprodução deliberada das técnicas usuais, dos jeitos e trejeitos do cancioneiro. A histórica e nacionalmente desgastada “fórmula festival” renovada em TV pública. Nada dos óbvios e abomináveis refrões, do instrumental previsível e da simpatia mecânica, característicos nesse tipo de disputa. A aparição de Arrigo e seu arsenal sonoro, pelo contrário, beirou o insólito, o imprevisível, a polêmica. Inventor de uma nova sintaxe musical acabou esgrimindo com a preguiça mental da platéia: “O público quanto tem que pensar estranha”.
(trecho do livro Na boca do Bode)

“Fizemos um grande manifesto, etc. Mas aí foi na volta, exatamente, na volta desse trabalho em que fui lá, "mamar" nas tetas culturais, é que a gente viu lá os "cagistas", aqueles caras ligados ao John Cage (músico concrestista americano). E descobrimos, então, toda uma fatia de produção ligada ao acaso, ao happening, essa coisa, e começamos a fazer isso aqui. Eu, o Júlio Medaglia, o Damiano Cozzela, o pessoal que assinou aquele tal manifesto. Esse manifesto dizia exatamente isto: "chega desse negócio de coisinha da música erudita enfiada só dentro do teatro, pra meia dúzia de milionários e tal. A gente tem é que sair para a rua, fazer música na rua com os meios que houver; se forem bons ou maus, isso é outra coisa. Mas fazer o que for possível". E aí que me aproximei deliberadamente da música popular”.(...)Eu tenha uma composição que se chama "Organismo", que vai ser gravada provavelmente nos próximos meses. Era nesse tipo aí, bouleziana, tudo era seriado, estruturação dos sons, a reunião dos sons, a reunião dos grupos, o jeito de cantar, porque também tinha canto. E, aí, o Zappa passou lá e botou, jogou merda no ventilador. O Zappa e outros amigos deles. Ninguém conhecia o Frank Zappa, ele não fazia, não tinha formado os Mothers of Invention, uma coisa caralhal... Não sei se já se já chegaram a ouvir... espetacular. Mas ele estava prestes a fazer isso, mais tarde, às... . Quando nós chegamos, mais tarde, em 69, que eu fui vê-lo em Nova York, já era 69. Enfim, essa geração, aí, que está hoje beirando os 70 anos, como eu, 68 anos, é que fez essa mistura toda. Então, tudo virou uma coisa só. Não tem esse negócio que tem música erudita, tem música popular; não sei o que, é som aí.
Rogério Duprat em entrevista ao Trabalho Sujo


Outra história legal do livro é sobre o festival “Colher de Chá”, que levou para Cambé, cidade próxima a Londrina, nada mais nada menos que os Mutantes, já sem Rita Lee mas ainda com a formação básica, Arnaldo, Sérgio, Liminha e Dinho.

Arnaldo Baptista, com os Mutantes, em Cambé (1973), no festival "Colher de Chá"

Enfim, ao descobrir tanta coisa que está aí, tão próxima da gente e tão escondida me vem a mente muitas outras coisas. Como a gente teima em estar tão preocupado com o que anda rolando em Londres, sem enxergar aquilo que está acontecendo ao nosso lado, no nosso quintal, no nosso vizinho, no nosso bairro, cidade, estado, País. Essa inconsciência e alienação é um freio invisível em nossa evolução. Afinal, se não desvendamos nem o Leminski, ícone máximo da cultura paranaense, como esperar que as pessoas hoje (sejam os mass média ou o público médio) dêem atenção ao ruído/mm, ou ao Terminal Guadalupe, ou ao OAEOZ?Quantos de nós lemos de verdade um livro inteiro do cara? Quantos já ouviram uma composição do Waltel Branco, que de Paranaguá correu o mundo como maestro, arranjador dos discos do João Gilberto, trabalhou com Henri Mancini e Stravinski, produziu discos de novela, da jovem guarda ou de ídolos populares como Odair José? Quem é Inami Custódio Pinto? E Anatilde Julião? Alguém já ouviu falar do professor Heriberto Ivan Machado e do livro “Futebol do Paraná” - 100 anos de História? Alguém lembra que os Mutantes tocaram em Curitiba ainda com a formação original nos anos 60? E que o Beijo AA Força dividia palcos com a Legião Urbana, o Fellini e o Sexo Explícito nos anos 80? Contrabanda? Opinião Pública? Carne Podre? Fumou um na casa branca da “Chave”? Tomou umas com o Marcos Prado?

Mas uma coisa nisso tudo me anima. É imaginar que de alguma forma a gente tá ajudando ou pelo menos tentando ajudar a mudar um pouquinho essa mentalidade vira-lata, coitadística. E perceber como é importante a gente também contar e registrar as nossas histórias. Seja com os vídeos do Rock de Inverno, as fotos dos shows, as gravações, os discos, os textos, as poesias. A gente vai passar, mas todo esse material vai ficar pra quem quiser descobrir, no futuro, o que um grupo de malucos dessa cidade tava fazendo pra passar o tempo e tornar a vida menos árida, menos medíocre e modorrenta. Estamos vivos e isso é bom, e eu quero descobrir mais, conhecer mais, produzir mais, registrar mais, e viver mais. Porque parodiando o Chacal, o tempo é curto, mas a vida não pode ser pequena.