3/21/2006

Independente - livro“Se tirar a poesia da vida não sobra nada”

Jornal do Estado de hoje

Adriane Perin

“Escrever e publicar é sempre um ato de quem não tem nada a perder. Coisa de fedelhos que não têm o que fazer, a não ser ficar metendo o bedelho na vida e nos sentimentos alheios”. A apresentação do novo livro de Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos já é um poema ao mesmo tempo que diz muito sobre o ofício do poeta. Não é missão fácil escrever em forma de rimas, em tempos de em que ela tanto se confundiu com os desabafos pós-adolescentes.
Mas, parece que os ventos estão virando e novamente a poesia essencial começa a chegar mais fácil novamente, quem sabe, recolocando Curitiba na dianteira irradiadora em que fez história nessa vetusta arte de lidar com a palavra em formas.
É o que acha Thadeu, o poeta – como ele se apresenta facilitando a vida de quem não tem familiaridade com a sonoridade de seu sobrenome. Incansável, o veterano do tempo da turma de Leminski, Marcos Prado, Beijo AA Força, Opinião Pública e cia. apresenta hoje Não Temos Nada A Perder , vigésimo-quinto título de uma carreira que tem muitas músicas gravadas e também romances.
Antes desse, o lançamento mais recente foram quatro títulos em um lambada, em 2004: Assim até eu, um romance; Comes, Bebes e Fumacês, o Carinho da Violência e O Amor é Lino (homenagem ao buteco e seu dono que tão bem receberam a geração punk curitibana e as que vieram depois). Este ano, outro tanto virá. Ele anuncia uns quatro, talvez. Será que este figura que parece estar sempre rodeado de muitos amigos escreve sempre tanto assim? “É que ás vezes as coisas ficam guardadas. Agora estou com dez livros esperando”, conta, emendando que em abril chega ao mercado seu primeiro disco-solo.
Opa, isso é novidade. “Já tenho músicas gravadas por um monte de gente, mas esse projeto é da Grande Garagem que Grava, me chamaram. Se dependesse de mim não teria gravado”, diz.

Bares se renderam a leituras poéticas

Tem muita gente que fala bastante sobre as dificuldades de entrar no mercado editorial. Não o Thadeu. “Não acho difícil. Que não se tem apoio oficial, é verdade. Mas o cara que fica dependendo disso não faz nada. Veja eu, ainda vou ter uns três ou quatro livros esse ano”, adianta ele, que partilha com o parceiro Sérgio a definição de Ezra Pound para a poesia. “É uma conversa de pessoas inteligentes”.
O momento é bom, acredita, para a poesia, que tem ganho espaços. Tem gente se reunindo para ouvir poesia até em bares. “O poeta é um artigo de primeira necessidade, se a gente tirar a poesia da vida não sobra nada”, ensina.
Na verdade, Thadeu acha que a poesia nunca deixou de ser importante. “É que é preciso separar aqueles que escrevem como um desabado amoroso até os 20 anos – todo mundo passa por esta fase. Mas, o público, mesmo pequeno, nunca deixou de existir. Nosso poeta mais lido é Augusto dos Anjos, leitura difícil e fartamente consumida. Estive em Londrina na Semana Leminski e li poesia em dez lugares diferentes. Em Curitiba estive no Porão Loquax e também tinha pessoas me ouvindo”, argumenta. ”Curitiba sempre foi uma referência em poesia, desde a época do simbolismo. Antigamente, das nove revistas brasileiras sete eram daqui. Acho que estamos retomando essa trajetória como centro irradiardor de poesia. Tem uma piazada legal, isso sem falar no rock, no que a cidade é a capital mundial. Tem muita letra da gente cantada por este pessoal”, celebra. (AP)

Serviço
Beto Batata (R. Prof. Brandão, 678 - Alto da XV). Informações (41) 3262-0840.

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